Jornal Caboclo

da região do Contestado, SC

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Cadê minha carreta? ……escreve Edison Porto

Conversas na boléia do caminhão.

Por Edison Porto

O dia amanheceu brusco (*), temperatura mais para frio considerando que sou paulistano (15C), de vez em quando uns pingos que não chegam a ser chuva, tampouco uma garoa de São Paulo.

Embarquei no caminhão vermelho com a logomarca da Alfa Transportes, numa carona de Caçador para Concórdia, com o motorista Wagner Gomes que está há cerca de 15 anos na estrada, também conhecido como “Abobrão”!

Lembrei que é o Dia do Gaúcho e rimos quando disse que já danço o “bugio”, o “xote” e a “vanera”, mas falta muito para dançar a “milonga” e o “chamamé”.

A estrada estadual SC 350 está doente faz tempo, tem mais buracos do que as pintas de quanto tive catapora. Mas cruza uma paisagem de beleza exuberante, com vários tons de verde, flores e pássaros.

Ele me contou que ela foi recuperada por volta de 2002, quando ele começou a viajar sozinho. Época em que fizeram as “terceiras faixas”, até então inexistentes. Mas de lá prá cá, lamenta o Wagner: “só tapa buracos”.

Perguntei se neste trajeto já tinha acontecido algum fato inusitado e “bah”, conta ele: “Semana passada perdi a carreta!!!  – Mas como “homi”? Perguntei entre curioso e assustado.

Era uma noite bem escura, e nesta mesma estrada, voltando para Caçador, de repente um estouro! Ele pensou num pneu furado e foi parando. Quando desceu do caminhão CADÊ A CARRETA?????

Eu imagino a cara de espanto, surpresa, susto do Wagner, quando não encontrou mais a carreta engatada no caminhão e nem conseguia vê-la na estrada escura e cheia de curvas.

(A esta altura da minha digitação na boleia, entre uma foto e outra, entramos na BR153, a Transbrasiliana que está bem melhor, embora não seja difícil encontrar buracos bebendo água e crescendo….)

Voltando ao “causo”:

Wagner atônito sem saber o que pensar, vê um homem se aproximando com uma lanterna, era o Juliano, seu amigo também motorista de Caçador, e lasca a pergunta: “De onde você veio?”

Juliano respondeu: “Ué! Passei por você agora, vi sua carreta parada lá atrás, pensei que tinha sido assaltado e ao ver você parei prá saber o que aconteceu. Você não me viu passar?”

Pois é! O Wagner ficou tão transtornado com o súbito desaparecimento da sua carreta, com a mente procurando processar o fato que nem viu o caminhão truque do Juliano passar.

Logo outros caminhoneiros pararam. Ao longo da viagem vi muitos cumprimentarem o Wagner, ao cruzarem por nós. Seu caminhão vermelho com as asas esvoaçantes da Alfa é bem conhecido, os amigos sabem que é ele passando.

Sinalizaram rapidamente o local onde a carreta parou, sem danos, encostada num barranco. Felizmente não aconteceu nada mais grave, no momento do desengate nenhum outro veículo passava, mas como ele diz: “Foi por Deus! A carreta parou numa curva, atravessada na pista contrária.”

Foi o seguinte: antes da curva um solavanco forte, pela condição ruim da estrada, isto somado ao esforço de tensão mecânica na curva, deve ter contribuído para a quebra de um parafuso que trava o engate da carreta ao “cavalo”, aí as mangueiras de ligação se romperam e o sistema automático de frenagem da carreta entrou em ação.

O Wagner certamente tem muitas histórias para contar, viajou por vários estados. Sua viagem mais longa dirigindo um caminhão foi de Videira, com baú frigorífico, para Fortaleza.

Com 36 anos, casado, pai de 3 filhas (12, 9 e 2 anos), desejo muita saúde e sorte para o Wagner, a quem agradeço a carona, o bate-papo e rogo a Deus por sua proteção.

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Nota do Autor: (*) Brusco, palavra de uso comum no interior de Santa Catarina para se referir ao tempo nublado.

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Sobre o autor:

Edison Porto, administrador pela Eaesp/FGV, MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e Jornalismo. Membro da Associação dos Amigos do Museu do Contestado de Caçador, da Associação Cultural Coração do Contestado de Lebon Régis e da ACIJO  Associação Caçadorense de Imprensa. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo.

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

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One thought on “Cadê minha carreta? ……escreve Edison Porto

  • Jandir Corrêa da Silva

    Muito boa essa reportagem Edison!
    Parabéns a você é ao Eagner Gomes que achou a carreta Intacta…
    Grande abraço meu amigo e ao motora!

Fechado para comentários.

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