“Viagem interrompida”. Por Marcelo da Silva
por Marcelo da Silva
Algo que me chamou muito a atenção nas últimas semanas foi a notícia veiculada aqui no Jornal Caboclo. “A prefeita de Fraiburgo Claudete Gheller Mathias disse que a sua administração pretende acabar com o ônibus biblioteca do município, adquirido para uso no programa Biblioteca Itinerante. Segundo ela, o veículo será adaptado para uso de transporte de atletas e de esportistas da cidade.” Tal notícia me traz uma mistura de decepção e indignação. Falo primeiramente da decepção, pois eu como morador de Fraiburgo, votei na Senhora Claudete para prefeita. O motivo de minha escolha foi principalmente pelo fato de nossa prefeita eleita ter sido secretária de Educação por longa data, pensei, ela irá investir muito em educação. Indignação. Sim, indignação por não acreditar que alguém da área da educação possa acabar com uma oportunidade de levar a leitura nas comunidades mais excluídas da cidade.
A educação é e sempre será um investimento a longo prazo, ninguém conseguirá transformar uma cidade, um estado, um país em poucos anos. A base desta transformação é obrigada a passar pela educação. Através de uma educação de qualidade, de bons projetos e de uma gestão eficiente, teremos a chance de sair desse caos que estamos vivendo. O maior investimento em educação (não apenas de recursos), sempre irá gerar economia em outros setores, como saúde e segurança. Li pelas redes sociais, inúmeros comentários, os que defendiam a ação da prefeita e outros (maioria) contrários. Dos que defendiam, alegavam se o ônibus não é utilizado pela população, que não tem o hábito da leitura, deve ser repassado ao esporte. Então pergunto: Por que não é utilizado? Devemos aceitar esta realidade, o povo não dá valor, então jogue fora este projeto? Como educador defendo a educação pública, gratuita e de qualidade. Não podemos aceitar que este projeto fique do jeito que está (ineficiente) ou acabe. A prefeitura deve criar projetos, buscar parcerias.
É inegável que o esporte da cidade necessita de apoio. Mas não é destruindo um projeto que não funciona por má gestão que iremos resolver outro problema provisoriamente.
Falando de gestão posso citar dois projetos maravilhosos, de sucesso desenvolvidos na cidade envolvendo a leitura. O Instituto Federal Catarinense – IFC possui um projeto chamado Hora da Leitura, desenvolvido pela bibliotecária Mirela Sens, ela que visita as escolas e conta histórias em cima dos livros para as crianças. Algo simples e eficaz. Outro projeto que gostaria de citar, é o projeto que está sendo desenvolvido pela ACIAF, no qual estão elaborando um concurso nas escolas da cidade com desenhos, e os vencedores irão ganhar um curso de grafitagem, para posteriormente transformarem geladeiras velhas em mini bibliotecas, que estarão recheadas de livros, e serão espalhadas pela cidade em pontos estratégicos. Meu objetivo aqui não é criticar, imagino que a decisão da prefeita teve as melhores intenções, ajudar os atletas da cidade. Porém, com todo respeito, há tempo de voltar atrás e realmente buscar parceiros para fazer este projeto da Biblioteca Itinerante dar certo. A leitura abre a mente, nos torna mais críticos e humanos. Aos pais dou um simples conselho: procurem ler para seus filhos, crie este hábito em suas vidas, eles irão te agradecer eternamente por isso.
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Sobre o autor: Marcelo da Silva é pedagogo, palestrante e professor de Geografia do Instituto Federal Catarinense – IFC de Fraiburgo; escreve às quintas-feiras no Jornal Caboclo.
P. S. : Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.
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