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CAMÕES E O AMOR – Por Adelcio Machado dos Santos

Por Adelcio Machado Santos

Os sonetos amorosos da lavra de Camões, pautados pelo que se denomina “idioma castiço”, ou seja, reputado a versão “culta” do português, hospedam as visões que se tem da relação homem/mulher no Ocidente. Destarte, a análise lingüística de sua obra já teve largo uso didático na escola tradicional.

É benfazejo lembrar de que o imperialismo necessita de um idioma que o operacionalize na mente do hegemonizado.

A conjuntura do idioma inglês, na Contemporaneidade, constitui em exemplo eloquente desta assertiva. A imposição da versão “culta” do português adversou muita resistência no Brasil, visto que, por muitas décadas, o idioma em uso no interior do Brasil, no período colonial, era a denominada “língua geral” – mescla do tupi-guarani com influência do português.

Em primeiro lugar, verifica-se a monogamia, ou seja, não levanta a menor possibilidade de um homem amar mais de uma mulher, muitos menos esta amar mais de um homem. Esta monogamia, igualmente, deve observar a mais estrita e completa fidelidade.

De outro vértice, observa-se visão lírica da mulher, herança da Idade Média, visto que os versos não enfocam a mulher de carne e osso, mas uma visão idealizada.

Quiçá deste fato emane que o amor nunca se concretiza, mas se mantém etéreo. O nosso compêndio de “Poesia em Língua Portuguesa”, relata com clareza esta conjuntura, ao projetar luz sobre as “idéias platônicas de Camões”, ou, em outros termos, “o amor visto como uma idéia, algo espiritual, idealizado (…) (p. 39).

Estes dois princípios configuram o paradigma ocidental da relação homem/mulher por muitas centúrias, só fraturado pelos movimentos libertários da Contracultura, mormente a partir dos anos 60 do século XX, porquanto este colocou em xeque os pilares do supra aludido paradigma – a monogamia, a fidelidade e a pureza.

Amor tão espiritual entre homem e mulher, sequer tangenciando o desejo, só pode se pautar pela melancolia, não pelo prazer.

Nietzsche, em vários livros, denunciou o drama de se viver do abstrato e maltratar o corpo, convertendo-se em precursor da Psicanálise e a preocupação desta quanto ao paradigma que separa mente (espírito) e corporalidade, cisão geradora de neurose.

Estes dois versos são claros:

 

“Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo alcançar?”

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Está no pensamento como idéia

[E] o vivo e puro amor de que sou feito.”

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Sobre o autor:

Adelcio Machado SantosPós-Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Especialista em Gestão Educacional, em Psicopedagogia e em Supervisão, Orientação e Administração Escolar; Reitor da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP); Advogado (OAB/SC nº 4912), Administrador (CRA/SC nº 21.651) e Jornalista (MTE/SC nº 4155).

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