105 Anos do ataque à cidade de Calmon SC, escreve João Batista
Aconteceu no meio da Guerra do Contestado que o Brasil não conhece
Por João Batista Ferreira dos Santos
No longínquo ano de 1909, centenas de homens ainda trabalhavam na construção da Estrada de Ferro, que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul.
A mata virgem a beira da ferrovia, era o paradeiro de muitas espécies de animais, além dos índios que acompanhavam de longe aquele movimento de gente. No povoado de Osman Medeiros, a Serraria da Lumber serrava sem parar, aos poucos os enormes pinheiros araucárias desciam ao chão pela força dos caboclos que impulsionavam uma serra, o suor escorria do rosto cansado, a Lumber esperava a madeira, o guincho estava estacionado esperando o momento para resgatá-las do meio das matas e carregar os vagões.
No mês de abril, o frio já castigava o povoado, mas depois de uma forte geada o sol brilhava no céu, muitos estavam ansiosos, pistoleiros exibiam suas carabinas e revolveres calibre 45, em coldres baixos e chapéu próximo dos olhos (parecia um povoado do velho oeste), naquele dia passaria o Presidente da República pelo povoado. Não demora e o Trem presidencial chega à estação, homens com “grossos” casacos descem dos vagões, retiram crianças e caboclos da plataforma, depois desce um senhor de bigode e óculos, é o presidente Affonso Penna.
Miguel Calmon vem em seguida. Os americanos correm cumprimentar o chefe da nação, percorrem o povoado, visitam a enorme serraria da Lumber. Depois da visita retornam para a estação, momento em que o presidente a inaugura denominando-a de ESTAÇÃO MIGUEL CALMON.
Cinco anos depois o povoado é arrasado, se transforma em uma enorme fogueira, Chico Alonso começa a sua vingança.
Dias depois, cinza e ferro retorcido pelo calor, corpos espalhados pelo chão é a visão daquela “cidade fantasma”. Soldados e pessoas que por ali passaram, viram animais dilacerando o que restava dos corpos de muitos americanos, trabalhadores da serraria, entre eles, muitos inocentes que tombaram naquela tarde de cinco de setembro de 1914.
Em 1915 tudo é reconstruído novamente, o “colosso da Lumber” (Serraria), a estação no mesmo padrão, casas, tudo recomeça.
A partir dali muitos fatos aconteceram, muita história foi contada a beira de um fogão a lenha nas noites de inverno, ou na varanda das casas nas noites quentes de verão. Naquele tempo, os jagunços eram muito maltratados, os bandidos da “lumbe” matavam os homens e abusavam das mulheres, quando não matavam as crianças? contava meu pai Pedro Ferreira, enquanto assava pinhão na chapa do fogão.
O tempo passou, as crianças cresceram, Calmon foi emancipado, chega o ano de 2019, quando se completaram 110 anos da existência da pequena cidade. Em abril de 2019, 110 anos, em dezembro a estrada de ferro completou 100 anos do término da sua construção, em setembro de 2.019, 105 anos do ataque ao povoado de Calmon. Os heróis anônimos continuam trabalhando, escrevendo para que a história não morra.
Entre eles podemos citar: Nilson Thomé(in-memorian), Delmir Valentini, (Caçador), Fernando Tokarski (Canoinhas), Enéas Athanázio (Balneário Camboriú), Nilson César Fraga (Londrina), Elói Tonon, Sergio Buck, Aluisio Witiuk (Porto União), Vilmar Sassi, Marli Auras, Paulo Derenkoski, Walter Cavalcanti, o cineasta Sylvio Back, Zeca Pires, Marcia Paraiso e tantos outros.
Dizia uma senhora durante uma entrevista para meu novo livro: “Ninguém dá bola para o que nós falamos, pensam que tudo é mentira”.
Nos meus seis anos de idade, eu ouvia as histórias e pensava, quando poderei contar melhor a história dos jagunços?? Cresci ouvindo as várias serrarias serrando, caminhões transportando madeiras. Em 1994, convidei meu colega de escola, Antonio Joel Ribeiro e, o saudoso companheiro Mauri Araújo, momento em que “nascia” o Grupo Resgate.
Naquele tempo, ninguém sabia explicar o porquê de a cidade se denominar CALMON. Alguns diziam que era um caboclo da região, outros afirmavam ser um morador do povoado entre outras afirmações. A partir dali todo sábado as pesquisas eram realizadas, filmadora, câmeras fotográficas, blocos de anotações, ferramentas, café, linguiça, e outras guloseimas para passar o dia. Quantas descobertas, natureza, cachoeiras, velhas estações, estrada de ferro onde o guincho entrava para retirar madeiras, munições, espadas entre outros achados.
As entrevistas para o Jornal Resgates foram muitas, com o tempo o grupo foi crescendo, atualmente reduzido, continuo com o trabalho, hoje ao lado dos meus filhos e esposa. A nossa história não pode ser esquecida.
Nota do Autor: Fotos e texto são arquivos pertencentes a João Batista Ferreira dos Santos, Jornalista Profissional e Pesquisador, Grupo Resgate de Calmon!
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Sobre o Autor: João Batista Ferreira dos Santos, jornalista e pesquisador da história regional. Autor do livro “A História de Calmon na Guerra do Contestado” e das Crônicas: “Setembro Ensanguentado”; “A Moça do Armazém”; “As Botas de Borracha de Meu Pai”; e “Interior da Serra Acima”. Jornalista profissional pelo Centro Universitário de União da Vitória – UNIUV – 2008, nasceu em Calmon SC. É a Assessor de Imprensa há 27anos. Diretor Proprietário da Rádio Destaque Regional de Calmon e repórter do Jornal da Kairos FM de General Carneiro, Paraná, de segunda a sexta-feira. Presidente do Grupo Resgate Associação de Calmon.
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Obrigado caro amigo Edison Porto por publicar minhas histórias e seu portral, desejo sucesso na empreitada de mostrar nossa história. são poucos os jornalistas interessados em contar nossa história.
Sou eu quem agradeço pela sua permissão para compartilhar os seus bem escritos textos, mostrando a verdade dos fatos históricos, resultado da sua pesquisa e dedicação honrando as milhares de vidas perdidas na Região do Contestado. Estamos juntos como você bem definiu “nesta empreitada de mostrar nossa história”, a história do Brasil, que os brasileiros não conhecem. Um forte abraço e que Deus lhe de longa vida e apoio no seu bonito e necessário trabalho no resgate da memória dos fatos. Obrigado!