“Ensaio sobre o futebol na américa portuguesa”. Por Douglas Torraca
por Douglas Torraca
A origem do futebol no Brasil conta com estrangeiros – principalmente trabalhadores ingleses e alemães que desembarcaram no País ou via imigrantes que aqui chegaram próximo de 1900 com influência europeia.
Para nos proteger do ufanismo e das histórias heroicas que costumam nos contar quando se fala do surgimento do futebol nas terras portuguesas da América do Sul, precisamos nos lembrar que, o Brasil ainda carregava forte toda influência sócio cultural dos séculos anteriores, como escravidão, família imperial, aristocracia fidalga, barões das fazendas de café e cana, bem como dos oligarcas criadores de gado, dos proprietários das minas de extração mineral (em 1900 não só apenas de ouro, prata e diamantes apenas, mas também de carvão e outros minérios já difundidos que despertavam o interesse do novo período econômico).
Esta parcela da sociedade, igual hoje, era também a minoria da população, a elite que tinha a propriedade privada de terras, dos meios de produção e da comercialização dos bens de consumo. Era a elite atual, só que com outras roupas, outras tecnologias utilizadas, mas a mesma elite privilegiada e que até alguns anos antes, também era escravocrata.
Então, por mais que queiram afirmar que o futebol era popular e se constituiu num esporte do povo, a verdade mesmo, é que quem podia praticá-lo no início eram os burgueses, pelo custo dos utensílios como bolas, áreas para se praticar, traves, redes e uniformes utilizados.
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Quase todos os times de futebol, no Brasil, que conhecemos hoje e que formam os principais que disputam as séries A, B, C e D, surgiram todos como uma modalidade extra das que já existiam em clubes sociais tradicionais, como fica fácil de exemplificar no caso carioca: tanto Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco, tinham como principais modalidades e com ‘atletas de ponta’ (naquela realidade de 1900) esportes náuticos e aquáticos como o remo e a natação, entre outras modalidades praticadas pelos burgueses à época.
E por isso que os negros e os pobres, no período de surgimento do futebol no País, eram tão raros como praticantes, para não escrever inexistentes, praticamente.
Há fotos de um dos primeiros esquadrões do Grêmio, em que se consegue identificar um negro no time, antes de 1910 ainda, mas era sem dúvida uma exceção. E não tenho dúvida de que para ele ser aceito na agremiação foi realizada uma reunião para aprová-lo, entre todos que já faziam parte do dia a dia deste time, nos seus primórdios.
Mas isso não quer dizer que precisa ser assim para sempre, e, desde então ocorreram avanços em muitos pontos, mas outros, se mantiveram ainda, como a constatação, infelizmente, de, apesar do futebol ser um esporte popular e praticado, hoje em dia por pessoas de todas classes sociais e gêneros, ainda ter a essência e o carimbo de ser dirigido e administrado pelas elites dos clubes que conhecemos.
Trilha Sonora: Brasil (1989) – Ratos do Porão:
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Sobre o autor: Douglas Torraca é jornalista, colorado e escritor; e colaborador do Jornal Caboclo.
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