“O leito de Procusto das Universidades Federais”. Por Saulo Carvalho
por Saulo Carvalho
Diz a mitologia que Procusto vivia próximo a uma estrada e que costumava atrair viajantes solitários oferecendo-lhes abrigo. Ao adormecer a vítima, o assassino tratava de ajustar as medidas do corpo às medidas exatas do leito. Se a vítima fosse muito alta, poderia ter braços e pernas amputados, se fosse muito baixa, tinha os membros esticados.
Lendo uma nota da ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), me lembrei desse conto mitológico. Realmente é o que o governo Temer pretende fazer com o Ensino Superior no Brasil. Os cortes e contingenciamentos de verba são escandalosos para o próximo ano. Já em 2017, conforme a nota; foram registradas perdas significativas em torno de 6,74% de custeio, 10% no programa de expansão Reuni, 40,1% em capital, 3,15% do Programa Nacional de Assistência Estudantil e mais 6,28% de inflação no período. A manutenção desse quadro para 2018 irá afetar diretamente o compromisso das Universidades com o ensino, a pesquisa e a extensão. Parece pouco, mas as universidades públicas (federais e estaduais), correspondem com 95% da pesquisa nacional, sem contar que elas figuram entre as melhores universidades do país e da América Latina. Os rankings deveriam servir para que o governo observasse estrategicamente que efetuar cortes dessa natureza comprometeria de modo drástico, não somente a educação superior, mas toda produção científica nacional.
Como Procusto, Temer tem deitado nossas instituições no leito plutocrático do golpe. Independente das funções que estas realizam e da importância que ocupam para o desenvolvimento da soberania nacional, todas as instituições públicas terão que se encaixar ao mínimo orçamento destinado a elas. Mesmo que isso signifique a amputação e o desmembramento de órgãos importantes. Por outro lado, demonstra a total insignificância da palavra soberania, para este governo. Alçado ao poder de modo imoral e ilegítimo, Temer e seu séquito de ególatras, têm não só dilapidado o patrimônio nacional, como também jogado no lixo a soberania de um povo. Suas ações são bem claras; num dia perdoa dívidas e concede isenções na ordem dos bilhões ao capital financeiro privado, ainda oferece uma Amazônia inteira para as mineradoras. No outro, corta e diminui os investimentos sociais do Estado, reduz o valor do salário mínimo, aumenta impostos, retira direitos dos trabalhadores.
Se há alguma saída soberana para a crise, esta se encontra nos investimentos em educação, ciência, tecnologia e na valorização do trabalhador. Ao contrário, nossos recursos naturais estão sendo rifados, nossa indústria destruída e nossa capacidade criativa reduzida. O Brasil tem sido diminuído a um país cada vez mais dependente, a cada corte na educação, a cada escola fechada, a cada universidade sucateada.
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Sobre o autor: Saulo Carvalho é professor do curso de Pedagogia na UNICENTRO, campus Guarapuava-PR e Doutor em Educação Escolar pela UNESP-Araraquara; escreve semanalmente no Jornal Caboclo.
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