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Inatismo e Empirismo – Polêmica na Educação e na Ciência I – Por Adelcio Machado dos Santos

Por Adelcio Machado dos Santos (Artigo 38)

O progresso científico decorre não só de descobertas importantes, mas principalmente do esforço sistemático para interpretar os fenômenos. Como a criação científica é metódica, mesmo as descobertas feitas por acaso têm antecedentes que se apóiam na metodologia científica, pois o acaso só pode ser fecundo se o pesquisador estiver preparado para explorá-lo.

O método é o caminho ordenado e metódico, a orientação fundamental para se chegar a um fim e técnica, é a forma de aplicação do método. Representa a maneira de atingir um propósito bem definido. Tem-se então o método como estratégia e as técnicas como táticas necessárias para se operacionalizar a estratégia.

Neste contexto, configura-se a polêmica inatismo “versus” empirismo. Ou seja, as pessoas nascem com o conhecimento e educação deve contribuir para trazê-lo a lume; ou, pelo inverso, a pessoa é “tabula rasa” e educação deve redigir o conhecimento? Platão “versus” Aristóteles; São Agostinho “versus” São Tomás de Aquino.

O objetivo primordial de todo o conhecimento é aproximar o homem dos fenômenos naturais e humanos por meio da compreensão e do domínio dos mecanismos que os regem. Essa aproximação não requer formulações prévias de nenhum tipo, pois os estímulos externos chegam à mente humana por meio dos sentidos e o acúmulo de experiências sensoriais e intelectuais supõe por si mesmo um certo grau de conhecimento de cada indivíduo.

A assimilação indiscriminada de percepções pode gerar erros de interpretação, lapsos e captação insuficiente das informações recebidas. Por isso, a ciência precisa estabelecer regras que ajudem a classificar, registrar e interpretar os dados da percepção, o que garante ao mesmo tempo economia de tempo e um sistema de transmissão racional do saber entre as gerações.

As raízes da polêmica inatismo e empirismo situam-se na Grécia clássica, com o nascimento da dialética, que se apresentava como método de pesquisa e busca da verdade por meio da formulação adequada de perguntas e respostas. A primeira pergunta relaciona-se à definição do tema do diálogo, ou debate.

A abordagem dos gregos não sofreram grandes modificações no Ocidente até o século XVII, quando o saber científico acumulado exigiu uma revisão da metodologia. As influências das idéias humanísticas do Renascimento que compreendiam o homem como ser criador e investigador do Cosmo, viram-se plasmadas no método dedutivo, inaugurado por Galileu[1].

Este estabeleceu um novo método para a ciência natural ao combinar o uso da linguagem matemática na construção das teorias, com o recurso aos experimentos que permitem comprovar empiricamente as hipóteses científicas. Segundo seus postulados, a partir da construção de hipóteses, o método científico deve obter uma lei geral, de preferência expressa em linguagem matemática, que permita, além da compreensão dos fatos, prever o comportamento futuro de um sistema físico sob condições conhecidas.

Ainda durante o século XVII, o inglês Francis Bacon[2] defendeu o método indutivo na ciência experimental, segundo o qual as leis gerais que regem os fenômenos particulares podem ser estabelecidas a partir da observação e repetição das regularidades dos fenômenos particulares.

As proposições aparentemente opostas de Bacon e Galileu se sustentavam em princípios análogos, ao aceitar a experiência como fonte primitiva do saber, o raciocínio como mecanismo de estudo e os fenômenos naturais como fatos determinados e reconhecíveis a partir da observação.

 

[1] Galileu Galilei, (1564-1642).físico e astrônomo italiano. Inaugurou nova fase na história da ciência ao defender o racionalismo matemático como base do pensamento científico.

[2] Bacon, Francis (1561-1626).Filósofo inglês. Criou a “teoria dos ídolos” e propôs o método indutivo como nova maneira de estudar os fenômenos naturais.

Adelcio Machado dos Santos

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Sobre o autor:

Pós-Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Especialista em Gestão Educacional, em Psicopedagogia e em Supervisão, Orientação e Administração Escolar; Reitor da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP); Advogado (OAB/SC nº 4912), Administrador (CRA/SC nº 21.651) e Jornalista (MTE/SC nº 4155).

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

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