Camaradagem de trincheira, escreve Zé Figueiredo
A cidade precisa, mas não percebe!
Por Zé Figueiredo
Em uma cidade da região, vejo três homens consertando um vazamento em um encanamento. Um buraco no meio da rua devidamente sinalizado. Eles estão com uma picareta e vão se revezando. Enquanto um cava, os outros conversam, enquanto fumam um cigarrinho. Picareta é serviço pesado, quem já sentiu o peso de uma, pode confirmar.
O sol não dá tréguas, são três horas da tarde, e eles estão lá, firmes. Vez por outra, escapa uma risada gostosa. Talvez uma piada, uma brincadeira. Fico observando a calma, a tranquilidade e o bom humor que daquele buraco irradia. Comparo com o mundo aqui de cima, muitas vezes tenso, homens atropelando homens em argumentos vários e sorriso escasso.
Volto aos trabalhadores da picareta. Agora, outro está com a ferramenta pesada. Bate ao solo com vontade, na terra dura, na mesma terra que a todos abraçará um dia. A todos nós. Estão no mesmo clima, camaradagem de trincheira, uns pelos outros. A união que faz a força.
Agora o trabalho é com a pá. Serviço mais leve (não muito mais leve), é preciso tirar a terra do valo que se abriu, é preciso consertar o cano que vaza a água que todos bebem e que esperam sair da torneira, como por um milagre.
Será que olhando para a torneira que jorra a água fresca, o senhor de copo em punho, imagina que três homens estão consertando o encanamento que faz de uma simples torneira uma mina milagrosa? Não fazemos esta ligação, este nexo causal, como dizem os juristas. Apenas aproveitamos do conforto, não por maldade, mas, esquecemos que o mundo funciona em uma engrenagem de colaboração. Deixe o lixo três dias sem ser recolhido e se instala o caos.
Agora o encanador está iniciando seu trabalho. É preciso perícia para consertar um cano, não é tão simples como parece. Todo trabalho carece de habilidade. Um jato de água brota do buraco, logo é estancado. A veia já foi pinçada, logo o paciente estará curado e tudo voltará ao normal. A cidade sem saber, em silêncio agradece.
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SOBRE O AUTOR: Zé Figueiredo (José Geraldo C. Figueiredo), Graduado em Ciências Sociais e Jurídicas – Advogado Pós-Graduado em Direito Processual Civil; Graduado em Química Industrial- Químico Responsável da Cervejaria Casabranquense Ltda – Red Door; Colunista do Jornal Casa Branca, Estado de São Paulo e do Jornal Caboclo do Estado de Santa Catarina.
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