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Fé em São João caminha pelas brasas em Caçador (SC), escreve Edison Porto

A tradição mantida na 18ª Fogueira de São João Batista da família Scolaro

Por Edison Porto

Sr: Luiz Scolaro

Muita gente não sabe de onde vem o costume de se acender fogueiras nas festas juninas, principalmente no dia de São João. A família Scolaro conta todos os anos a história bíblica que explica esta origem, e o faz através de uma encenação que culmina com o acendimento da fogueira previamente montada.

Quiosque Scolaro

Esta teatralização já ocorreu com atores experientes do Grupo de Teatro Temporá, como em 2017, mas é comum, como aconteceu este ano, ser encenada pelos próprios membros da família Scolaro e seus amigos. Eles representam os personagens envolvidos no nascimento de São João Batista, o Santo do dia 24 de junho.

Tudo começa com o sacerdote do Templo de Jerusalém, Zacarias que tinha idade avançada e sua mulher também, por isso não tinham expectativa de ter filhos, até que ele recebe um aviso do Anjo Gabriel que será pai, porém não acredita e como castigo fica mudo até o nascimento do seu filho. Um narrador vai contando a história enquanto os atores a representam.

A esposa de Zacarias era Isabel, prima de Maria a mãe de Jesus que foi visitá-la no fim de sua gravidez na montanha onde morava. Maria havia combinado com seu noivo, José, que quando o bebê de Isabel nascesse, acenderia uma fogueira na frente da casa, para que pudesse ser vista de longe, anunciando o nascimento de João, um aviso para José ir buscá-la.

Chegada da imagem de São João Batista

E neste momento da história, a “fogueira de São João” é acesa e começa a surgir, do alto, uma imagem de São João Batista que vem, por um cabo, entre fogos de artifício, em direção ao público. Visível emoção domina as pessoas que com fé e devoção aguardam esta chegada da pequena estátua e bradam repetidas vezes “Viva São João!” A imagem do Santo fica por ali, até a fogueira se desfazer em brasas que formarão o caminho por onde os devotos irão caminhar descalços, entre eles crianças e pessoas de todas as idades.

Após uma tradicional explicação do momento, por um representante da família que agradece a todos, se fazem as orações e a benção aspergindo água benta sobre o “tapete de brasas”, em geral por um padre. Então passa o primeiro devoto, carregando a estátua de São João Batista nos braços, dando início a um ritual de agradecimento por suas vidas e/ou por uma graça recebida, ou ainda suplicando pela ajuda de São João. Conta-se que ao longo dos anos desta festa da Família Scolaro, milagres vem ocorrendo para os que participam desta celebração em homenagem à São João, o precursor de Jesus. Quando o Grupo de Teatro Temporá participou, houve também a encenação do batismo de Jesus pelo seu primo João, que passou a ser chamado então de João Batista.

Enquanto a fogueira queima, há anos em que ocorrem apresentações da dança de quadrilha e do divertido casamento caipira, passando de 1.500 o número de pessoas acompanhando tudo, como foi a grande festa de 2017. Em 2018, o Quiosque Scolaro enfrentou problemas com exigências dos Bombeiros para a colocação de uma porta que não chegou em tempo, assim a família desistiu de fazer a festa aberta ao público e a 17ª Festa da Fogueira de São João, foi de cunho familiar e bem reduzida. Neste ano de 2019, também não foi uma festa aberta e anunciada para o público da cidade, mas só para a participação de familiares e convidados, mesmo assim teve a participação de algumas centenas de pessoas.

Quando os convidados começaram a chegar encontraram a fogueira armada, o espaço em volta todo decorado com as bandeirinhas típicas das festas juninas que se espalhavam até dentro do salão do Quiosque Scolaro. Lá se podia comprar bolos; pastéis; porção de pinhões cozidos; pipoca; quentão; vinho; café e refrigerantes.

Depois da encenação da história de São João ao ar livre, dando tempo para a fogueira queimar, a família apresentou um pequeno esquete encenando a homenagem a um veterano de Guerra, uma pantomina com fotógrafos malucos com sua estranha câmera que divertiu crianças e adultos. Mais adiante, no cenário de uma casa de italianos do interior, montado ali no salão, outro esquete acontece, com a nona tentando rezar uma novena, para filhos e netos bem atrapalhados que entretidos na reza ou no jogo de baralho disfarçado, não percebem que um ladrão entrou sorrateiramente e roubou o rádio da família. Muita coisa acontece, é só gargalhada e muita atenção da criançada que fica feliz quando o rádio é recuperado, por um familiar que saiu em sua caça com uma espingarda que explode lá fora, deixando o caçador com o rosto negro de fuligem, quando ele volta, a gargalhada é geral. As crianças adoraram.

Os presentes se confraternizam, saboreando o que o Quiosque oferece a preços bastante reduzidos. Amigos que se reencontram, histórias que se repassam, as novidades sendo contadas, enfim um encontro bastante agradável possibilitando também o nascimento de novas amizades, além do flerte natural entre os jovens presentes. Até que as brasas são espalhadas e se faz o aviso no salão que será dado início à cerimônia da passagem dos pés descalços sobre o caminho incandescente.

Sr Luiz Scolaro caminha pelas brasas

Terminada uma Festa de São João, o Sr. Luiz Scolaro já está pensando na próxima e passa a guardar ripas de madeira que vai acumulando durante um ano, mantendo secas para a realização da tradicional fogueira do ano seguinte, a próxima em 2020, quando ele estará com 83 anos, se Deus quiser, comandando a 19ª Festa da Fogueira. Quem sabe com apoio externo, de empresas, entidades e autoridades, este tradicional evento no Quiosque Scolaro se torne um significativo atrativo turístico para a cidade de Caçador.

A seguir filme da passagem pelas brasas na grande festa de 2017, e filmes de 2019, embora sem a iluminação daquele ano, ficam como registro.

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Sobre o autor: Edison Porto, administrador pela Eaesp/FGV, MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e Jornalismo. .Técnico em Agronegócio – SENAR SC. Membro da Associação dos Amigos do Museu do Contestado de Caçador, da Associação Cultural Coração do Contestado de Lebon Régis, da ACIJO  Associação Caçadorense de Imprensa e do Núcleo de Comunicações da ACIC Associação Empresarial de Caçador. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo.

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

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