A Independência do Brasil explicada no diálogo entre dois mineiros, escreve Augusto Leonel Ribeiro
Zé e Quinca. Cumpadre Malaquias tava só na escuta
Por Augusto Leonel Ribeiro
_ Dia, cumpadre Quinca! Ocê tá sabeno que o tale de Brasir tá independente, agora?
_ Uai, cumpadre… O minino da Sinh’Ana chegô lá na venda do Quinzote com essa prosa.
_ Pois é! Diz que foi semana passada, né!? (Os trem demorava pra chegá em Minas!)
_ Diz que foi…
_ E o quê que o Salinho contô procêis lá na venda?
_ Intão, cumpadre… Ele disse que ficô sabeno que o Pedrinho do João da Maria de Portugale pricisô viajá pra São Paulo e largô a muié dele tomano conta da casa e das criança…
_ Como é o nome dela memo, Quinca?
_ É Leopordina, né!? A Leopordina do Chico da Áustria.
_ Ah, é memo… fia de Sá Maria das Dua Cicia, né!?
_ Ela memo, cumpadre!
_ Intão… Diz ele que ela ficô tomano conta da casa e no finali de agosto ela juntô o pessoar da política pra vê se eles ajudava pro Brasil ficá independente… Aquele menino, o Zé do Bonifácio, dos Andrada ali de Barbacena, diz que tava lá tamém!
_ Oh!
_ Aí, diz que o pessoar falô que apoiava a Independência e que o Pedrinho podia ser informado desse trem. Contece que o pessoar lá de Portugale mandô uma carta, izigino que o Pedrinho vortasse pra lá.
Ah, diz que num deu ôta!
A Leopordina mandô o Paulinho Bregaro ir encontrá com o Pedrinho e entregá pra ele uma carta onde ela falava que era pra ele proclamá a Independência logo.
O Zé do Bonifácio aproveitô e mandô uma cartinha pra ele tamém.
Diz que Paulinho achô o Pedrinho de carça arriada na bêra do córgo.
Mai num deu nem chance, intregô as carta ali memo.
(Risos dos cumpadres)
_ E aí Quinca, o quê que ele aprontô?
_ Uai, diz que cabô de cagá leno aquilo, vestiu a cirôla, aprumô a carça, muntô na mula e foi ter com o pessoar que tava parado mais adiante, numa venda na bêra da estrada.
Diz que chegô lá brabo… Puxô a espada, e falô: “D’agora indiante, nóis num é mais pau mandado de Portugal. O Brasir tá independente. É isso ou morte.”
_ CreinDosPai, hein cumpadre! O Pedrinho é de corage, né!?
_ Ah, cumpadre… Se ele tem corage eu num sei. Mas com essa aí, a gente ficô sabeno direitinho quem é que manda na casa!
(Risos dos cumpadres)
_ Ah, cumpadre Quinca, diz que a Leopordina é braba demais. Parece que ele anda comeno na mão dela.
(Risos dos cumpadres)
_ Entra, cumpadre! Vamo tomá um café!
_ Deixa ôta hora, cumpadre! A Lilia ficô sozinha lá em casa e tá armano chuva.
Ocê fica com Deus! Dá lembrança pra cumadre Margarida!
_ Vai com Ele tamém, cumpadre. Manda lembrança pra cumadre!
Assim termina a explicação do ocorrido em 07 de setembro de 1822.
Prof. mineiro Augusto Leonel Ribeiro.
Nota do Editor: A foto de capa é de autoria de Thaís Andressa, fotógrafa e jornalista da cidade de Nazareno MG: thaisandressafotogafia@gmail.com Cel: (35) 9 9848-8721
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Sobre o Autor: Augusto Leonel Ribeiro é mineiro de São João Del-Rei. Criado em Nazareno/MG, tem prazer em retratar o jeito simples e simpático das gentes das Gerais. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de São João Del-Rei, atua na Educação Municipal e no Serviço Social da Indústria em Caçador desde 2013.
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