O Leão-baio anda pelo município de Caçador, escreve Edison Porto
Puma, Onça-parda, Sussuarana, ou Suçuarana caça no Contestado
Por Edison Porto
Uma equipe de cinco biólogos da Ong Gato-do-Mato, entre eles o Presidente da entidade, Anderson Clayton Copini, acompanhada por mim, editor deste Jornal Caboclo, saiu em busca de vestígios da presença de um Puma na zona rural do município de Caçador, SC, seguindo relatos de moradores da região, dando conta que um animal da espécie anda por aqui.
A equipe foi recebida pelo Sr. Francisco Delir Picoloto que a guiou pelas matas de sua propriedade, mostrando por onde o leão-baio costuma passar a cada quinze dias, segundo ele. Nesta pesquisa não se encontrou pegadas do felino, mas foram identificadas pegadas de outros animais que podem ser presas do puma. Se por um lado a equipe se frustrou em não encontrar pegadas do puma, por outro lado, identificou marcas em árvores, que seriam arranhados típicos de outros felinos, gato-do-mato, gato mourisco, ou maracajá.
Este puma, ou leão-baio, teria já morto dois cães da propriedade. Um apareceu ferido e morreu dias depois, o outro já foi encontrado morto, com as entranhas abertas em ferimento típico de ataque de puma que devora os órgãos internos, partes moles, diferentemente da onça-pintada que geralmente come a cabeça, ou as partes traseiras e músculos das pernas de suas presas.
Apreensivo com estes ataques e com a presença constante de rastros que tem visto pela propriedade e até um avistamento que já teve do animal, o Sr. Francisco procurou a ajuda a Ong Gato-do-mato que tem pessoal capacitado para verificar tais ocorrências com carnívoros selvagens. Ele levou a equipe pela rota que ele considera que o puma faz vindo num sentindo e, depois de alguns dias, voltando pelo mesmo caminho.
Neste trajeto a equipe resolveu instalar três conjuntos de equipamentos fotográficos, com sensores de presença, para monitoramento da vida silvestre. As câmeras foram programadas para se ligarem no início da noite e fotografar qualquer animal que passe pelo seu raio de ação, em torno de três a quatro metros. Espera-se que assim se possa levantar dados que comprovem a passagem do felino na propriedade.
Caso se comprove a existência deste animal carnívoro de grande porte que estaria nas redondezas da propriedade, poderão ser adotadas medidas de prevenção que preservem o espécime em questão, uma vez que se trata de animal selvagem em risco de extinção, bem como se previna a segurança dos moradores da localidade.
O puma, ou leão-baio, raramente ataca o homem e costuma ter medo de cães, porém acuado ou se sentido ameaçado, pode ser bem perigoso. É um animal solitário se unindo apenas para acasalamento, depois a fêmea anda com o filhote até que ele possa caçar sozinho. Este felino percorre grandes distâncias, seu território chega a 300km² e sempre tem pelo menos um lugar seguro para se abriga. Ele costuma caçar ao entardecer, preferencialmente veados e catetos, que ataca com a artimanha da emboscada, se esgueirando atrás de árvores e arbustos. Ele também se alimenta de animais menores, roedores e até insetos.
O puma existe em todas as Américas, desde o Canadá até o extremo sul da América do Sul. É o segundo maior felino das Américas, ficando atrás apenas da onça-pintada. Este felino tem altura em torno de 60cm e pode chegar a 2,4 metros de comprimento. Um macho pode viver até 20 anos, pesa em torno de 80kgs, mas pode chegar a mais de 100 kg, dependendo de sua dieta. Um dos maiores encontrados no Brasil pesou 120 kg. Ele não ruge como os felinos maiores, mas faz um som parecido como o dos gatos domésticos quando estão estressados, ou com medo e se comunica com um estridente silvo.
O desmatamento e o crescimento das cidades, diminuindo o espaço da vida selvagem, causa um desequilíbrio ambiental que põe o puma em sério risco de extinção. Além da diminuição da sua fonte de alimentação, há também a nociva ação de caçadores. Esta situação pode levar este animal selvagem a entrar em áreas com a presença do homem e atacar animais de rebanho, como gado e ovelhas e até mesmo animais domésticos, como o caso dos cães que teriam sido atacados na zona rural de Caçador.
Na América do norte é também conhecido como leão-da-montanha, nome que veio dos antigos exploradores espanhóis que o chamavam de “gato monte”, ou gato da montanha. Lá o felino é também chamado de “Cougar”. Puma é uma palavra de origem inca, ou quéchua dos índios andinos do altiplano do Peru, Chile e Bolívia. É o nome que se popularizou no mundo todo, dando origem ao nome científico do animal que atualmente é Puma concolor, anteriormente era Felis concolor. No Brasil este grande felino é conhecido também como Onça-parda, que é bem diferente da conhecida Onça-pintada, cujo nome científico Panthera onca.
O seu nome popular em várias regiões do interior do país é Sussuarana, cuja grafia também se apresenta como Suçuarana, palavra tupi que vem da expressão “Da cor do veado”, por causa da sua cor marrom ou cor de ferrugem, podendo se apresentar num bege rosado ou de cor cinza.
A atividade da Ong Gato-do-Mato neste primeiro dia de inverno de 2020, 21 de junho, foi extenuante, percorrendo lugares de difícil acesso, como o leão-baio gosta. Ao final dela a expectativa pelos resultados que se espera encontrar quando as câmeras forem recolhidas após uma semana, era bem grande, todos estão ansiosos para ver o que será fotografado.
A bióloga Andréa Tozzo Marafon, disse: Esse tipo de atividade é muito relevante porque conhecer a área de distribuição das espécies auxilia nas ações de conservação. Há muitos relatos de avistamentos do leão baio não região, mas poucos registros confiáveis.
Lúcia Karoline, também bióloga, declarou: A atividade além de ter sido uma verdadeira aventura, é de extrema importância, pois se conseguirmos registrar o puma, será um grande marco na vida de todos que participaram.
Ana Paula Silva Klein, que está concluindo sua formação como bióloga falou: Como parte da família do sítio, quero agradecer a disponibilidade de cada um de vocês, por tirarem esse tempinho para fazer esta visita, nos ajudando a descobrir quais animais nos visitam. E como parte da ONG, agradeço todo o conhecimento que vocês me proporcionaram, podendo olhar agora para aquele lugar com outros olhos.
A professora e bióloga Débora Ceretta Jung também integrou a equipe desta pesquisa de campo da Ong Gato-do-Mato.
O Autor, se sentiu orgulhoso e agradecido de ter participado desta verdadeira expedição pelo interior do município, fotografando a equipe Gato-do-Mato em ação, além das belas paisagens com uma flora exuberante.
Agradecimento especial ao biólogo Anderson Clayton Copini, presidente da ONG que liderou a equipe e contribuiu com o Autor para a elaboração deste artigo. E, é claro, agradecimento ao proprietário da área e nosso guia, Sr. Francisco Delir Picoloto que ao final da atividade nos brindou com café quente e vinho colonial.
A foto de capa, foi extraída de interessante matéria do site UPF – Universidade de Passo Fundo que juntamente com o Instituto de Ciências Biológicas e a Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA) desenvolve o Projeto Charão no município de Urupema. Com o objetivo de garantir a existência de pinhões para alimentação do papagaio-charão e do papagaio-de-peito-roxo, o Projeto passou a monitorar o leão-baio que aparece por lá, provavelmente atraído pela tranquilidade floresta preservada. Conheça em https://www.upf.br/ICB/noticia/leao-baio-passa-a-ser-monitorado-pelo-projeto-charao
A seguir link para um vídeo do canal Imprenautas Natureza, associado ao Jornal Caboclo, com um resumo desta visita de pesquisa da Ong Gato-do-Mato, e outros links de reportagens a respeito da presença do leão-baio em Santa Catarina.
https://globoplay.globo.com/v/6789417/
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Sobre o autor: Edison Porto, administrador pela Eaesp/FGV; MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e Jornalismo; Técnico em Agronegócio pelo SENAR SC; Membro da Associação dos Amigos do Museu do Contestado de Caçador, da Associação Cultural Coração do Contestado de Lebon Régis, da ACIJO Associação Caçadorense de Imprensa e do Núcleo de Comunicações da ACIC Associação Empresarial de Caçador. Membro dos Conselhos Municipais de Turismo e de Cultura de Caçador. Participa da ONG Gato-do-Mato. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo.
P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.
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Bacana. Aqui na região as pessoas contavam a história de uma onça com a pata virada, que era a maior do Brasil. Essa história é muito antiga.
Grato pelo comentário Paulo, isto prova que as onças sempre estiveram por aqui. Nós temos invadido o território delas e de outros animais, por isso é importante apoiarmos o trabalho de entidades como a Ong Gato-do-Mato que reúne biologos e especialistas de várias áreas que voluntariamente dedicam seu tempo no trabalho de conscientização, proteção e preservação do meio ambiente e de nossa fauna. Abraços