ESG uma sigla que dá o que falar, escreve Edison Porto
Criada em 2004 já foi rechaçada e agora é respeitada e adotada
Por Edison Porto
Na década de 70 já se discutia os “limites do crescimento”, ficou famoso o Clube de Roma, um grupo de estudiosos ilustres que discutiam economia, política e apresentavam preocupações com o fim dos recursos não renováveis do planeta, como o petróleo, e com os danos ao meio ambiente que o desenvolvimento das nações causariam ao planeta.
E de fato, com o tempo o mundo passou a discutir o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, o desmatamento, a poluição e as mudanças climáticas que já sentimos afetando nossas vidas aqui e acolá.
A ONU – Organização das Nações Unidas, estimulou discussões a respeito do desenvolvimento sustentável, da proteção das populações em seus direitos fundamentais e do meio ambiente. E foi assim, que em 2004, numa reunião de 45 minutos em Genebra, o repórter de um tabloide inglês, Paul Clements-Hunt, com um pequeno grupo de funcionários da ONU, cunhou a sigla ESG significando em inglês “Environmental, Social, Governance”, ou em português ASG – Ambiental , Social, Governança.
Ambiental e Social qualquer pessoa entende do que se trata, mas já a palavra Governança não é um termo popular e se refere a um conjunto de regras e boas práticas para garantir que a empresa (o empreendimento) cumpra suas obrigações e deveres com relação a todos as partes do mundo relacionadas com o negócio (em inglês “stakeholders”).
O objetivo de Clements-Hunt com o time da ONU, era chamar a atenção de investidores e banqueiros para que levassem em conta em suas avaliações de alternativas de negócios o que eles representam em termos de riscos para o planeta, o seu comportamento em relação aos trabalhadores, e em relação ao respeito às normas legais e sociais, mostrando que estes são aspectos que podem afetar lucros e credibilidade do negócio. Enfim, alertando para o cuidado com investimentos socialmente responsáveis, o que é um apelo positivo para Wall Street (o Mercado de Capitais).
Clements-Hunt quis que o mundo entendesse que “ESG” é essencialmente um conceito capitalista e declarou: “O capitalismo sobreviveu aos últimos 250 anos se adaptando aos tempos, e a próxima fase exige que ele considere os riscos que as questões ambientais, sociais e de governança representam.”
O encontro de Clements-Hunt com o time da ONU que deu início a história de “investimento ESG”, foi provocado pela ação do ex-Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, que em janeiro de 2004, escreveu para 50 CEOs (posição nas empresas estrangeiras acima do Presidente) de grandes instituições financeiras, num chamamento para participarem de uma iniciativa patrocinada pelo Pacto Global da ONU, com apoio do Governo Suíço e da “International Finance Corporation – IFC”, a maior instituição global de fomento para o desenvolvimento do setor privado em países em desenvolvimento. O objetivo era engajar estas instituições em maneiras de integrar o ESG aos mercados de capitais.
Um ano depois, 2005, esta iniciativa inspirou o Dr. Ivo Knoepfel , fundador da empresa de pesquisas e estratégias de investimentos onValue a fazer um relatório que chamou de “Who Cares Wins”, ou seja “Quem se importa ganha”. Neste documento o Dr. Ivo defendeu que considerar fatores ambientais, sociais e de governança nas análises de investimento leva a negócios e mercados mais sustentáveis e com melhores ganhos para as empresas.
Dr Ivo Knoepfel coordenou a contribuição do setor financeiro para o Pacto Global da ONU no projeto liderado por ele com o nome do seu relatório: “Who Cares Wins”.(Quem se importa ganha). Ele também foi consultor na definição dos Princípios Para Investimentos Responsáveis da ONU, para o desenvolvimento de diretrizes para investimentos em áreas particularmente sensíveis, como micro finanças, “commodities” e terras agrícolas.D
Os aspectos ambientais, sociais e de governança (o ESG) abrange extensa gama de questões que não fazem parte da análise financeira tradicional, no entanto, podem ter relevância financeira nos resultados dos negócios.
O interessante é que os conceitos ESG foram duramente criticados, principalmente pelos republicanos dos EUA, como algo da esquerda, como um conceito que prejudicaria os investimentos e a rentabilidade das ações. Inicialmente, muitos achavam ser apenas um truque de marketing e houve casos, como o do Estado da Flórida ,que retirou seu investimento na empresa BlackRock Inc. uma das mais importantes empresas a propor os conceitos ESG na Bolsa de Wall Street.
Com o tempo, o ESG se firmou como uma prática a ser adotada pelas empresas na sua valorização ante as análises de investidores, clientes e fornecedores, que podem considerar como elas afetam mudanças climáticas, como tratam a gestão da água, quais seus cuidados com políticas de saúde e segurança na prevenção e proteção contra acidentes, como gerenciam suas cadeias de suprimentos, como tratam seus resíduos, como respeita seus trabalhadores, enfim, se a empresa tem uma cultura que constrói confiança e promove inovação.
O ex repórter de tabloide, Paul Clements-Hunt é hoje diretor de sustentabilidade do escritório de advocacia britânico Mischcon de Reya LLP e declara: “Quanto mais o debate se desenvolver, mais óbvio será que o “capitalismo extrativo”, em que o crescimento depende de aproveitamento de recursos limitados, não pode competir com o “capitalismo regenerativo”, que vincula o sucesso econômico ao crescimento sustentável.”
As palavras de Clements-Hunt me lembram de quando eu estudava na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP/FGV – 1972/1977). Naquela época discutíamos o livro “The limits of Growth – The 30-year update” publicado em 1972 no Brasil com o título “Limites do Crescimento”. O temor era quanto às consequências do rápido crescimento mundial e o uso de recursos naturais limitados. Também discutíamos o livro “A Estratégia do Desperdício”, do jornalista Vance Packard, um crítico dos excessos do consumismo norte-americano e a manipulação da propaganda que resultam nele.
Essas discussões me causavam o temor quanto aos rumos que a humanidade poderia tomar e a destruição do nosso belo planeta. Quase 50 anos depois vejo agora esforços reais para conter esta destruição, com a preocupação genuína e crescente com a sustentabilidade em toda a parte e o surgimento da Cultura ESG, com uma governança corporativa respeitando o Meio Ambiente e o Social. Parece que a humanidade está acordando, mas ainda faz guerra e destrói, em vez de se unir para o bem de todos. Mudemos isso!
Pode-se encontrar o documento completo do Relatório da Conferência “Who Cares Wins” de 25 de agosto de 2005 em Zurich, intitulado “Investing for Long-Term Value” (Investindo a Longo Prazo), disponível em arquivo “pdf” para baixar em:
O meu interesse pelo tema ESG foi despertado pelos artigos da jornalista Rose Campos:
“O significado e aplicação dos conceitos ASG ou ESG nas empresas” – http://jornalcaboclo.com.br/index.php/2022/07/06/o-significado-e-aplicacao-dos-conceitos-asg-ou-esg-nas-empresas-escreve-rose-campos/
“Sopa de Letrinhas” – http://jornalcaboclo.com.br/index.php/2023/02/10/sopa-de-letrinhas-escreve-rose-campos/
Mas decidi pesquisar a origem do ESG quando assisti a interessante palestra do Consultor André Teixeira de Oliveira, do Instituto de Tecnologia em Logística de Produção do SENAI-SC, organizada e promovida pela Regional Centro-Norte da FIESC na cidade de Caçador, SC em 08/fev/2023 – “Principais desafios para implementar a cultura ESG nas Empresas – Fundamentos de Mercado para a alavancagem dos negócios”. que pode ser assistida no link: https://www.youtube.com/watch?v=QckPvkPB21w&t=642s
Para elaboração deste artigo foram feitas consultas em:
– Artigo de Saijel Kishan de 04/dez/22 – https://www.bloomberg.com/news/articles/2022-12-04/ex-tabloid-reporter-who-coined-esg-label-says-investing-backlash-is-a-plus?leadSource=uverify%20wall
– Artigos da Revista Forbes: https://www.forbes.com/sites/betsyatkins/2020/06/08/demystifying-esgits-history–current-status/?sh=b67726c2cdd3 , e
https://www.forbes.com/sites/georgkell/2018/07/11/the-remarkable-rise-of-esg/?sh=f8b8af516951
– Site de um dos maiores escritórios de advocacia do mundo, sediado em Londres, o Freshfields Bruckhaus Deringer LLP, fundado em 1743: https://www.freshfields.com/en-gb/
– Site da empresa onValue do Dr. Ivo Knoepfel: https://www.onvalues.ch/en/about/team
– Notícia do Jornal EXTRA sobre a palestra do Consultor André Teixeira de Oliveira na FIESC em Caçador, SC: https://www.jornalextrasc.com.br/noticias/detalhes/fiesc-destaca-a-importancia-da-implementacao-da-cultura-esg-nas-empresas-9935
Foto de Capa; Daniel Tenconi Diretor Executivo a FIESC abrindo a Palestra do Consultor Renato Teixeira de Oliveira na Regional Centro- Norte da FIESC em Caçador, SC.
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Sobre o autor: Edison Porto, administrador pela Eaesp/FGV; MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e acadêmico de Jornalismo; Técnico em Agronegócio – SENAR SC; Membro da Associação dos Amigos do Museu do Contestado de Caçador, da ACIJO Associação Caçadorense de Imprensa e do Núcleo de Meio Ambiente da ACIC Associação Empresarial de Caçador. Presidente do Conselho Municipal de Turismo 2023/2025 e membro do Conselho Municipal de Cultura. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo.
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