Mega Artesanal – Um encontro de artistas e empreendedores com a arte da sustentabilidade e do respeito pela nossa natureza, escreve Rose Campos
As feiras aquecem o turismo interno de negócios e ajudam a economia circular
Por Rose Campos
Mega Artesanal, a maior feira de produtos para arte e artesanato do mundo recebeu, entre os dias 28 a 02 de agosto, mais de 120 mil pessoas, incluindo 600 caravanas de todo o Brasil, além de promover mais de 5mil cursos diariamente, durante os seis dias de feira. O evento, reforça sua importância para a área da arte e do artesanato, da economia circular e do empreendedorismo, sendo que nesse ano de 2023 os temas sustentabilidade, diversidade e inclusão marcaram a edição da feira.
Para Rita Mazzotti, diretora da WR São Paulo, organizadora da Mega Artesanal, a feira deste ano foi marcada por tendências. “Cada edição tem uma personalidade própria e, nesta, ficou muito clara a intenção dos expositores em saírem do tradicional e apontarem mais no sentido das tendências de mercado” e, nessa direção, “a sustentabilidade é uma temática que ganhou destaque, com mais clientes buscando produtos ecologicamente corretos e socialmente responsáveis. Além disso, produtos para personalização são uma demanda crescente, e diversas empresas ofereceram ferramentas novas nesse sentido. A experiência do cliente também não fica para trás. As marcas investiram forte em criar experiências, estandes temáticos e espaços instagramáveis. Tudo isso, fortaleceu as parcerias entre as empresas e profissionais criativos que impulsionam o crescimento e a criatividade no mercado”, explica.
O cuidado com a natureza ficou ainda mais evidente nessa feira pela grande quantidade de itens decorativos com a temática floral e que utilizam materiais naturais, como cordas de sisal, bambu, elementos da natureza preservados em resina, bordados que remetem às flores e animais, cocares indígenas e tecidos macios, por exemplo. Na paleta de cores, os tons terrosos estão em alta, trazendo uma atmosfera mais orgânica e natural. Diversas marcas e artesãos independentes abraçaram tons terrosos em suas criações, resultando em produtos que vão desde roupas e acessórios até decoração para o lar. “Por último, acrescenta Rita, vale destacar que temos toda uma nova geração de artesãos, criando e produzindo peças inovadoras, trazendo um frescor e impulso pro mercado”.
A diversidade que promove uma sociedade mais justa,
inclusiva e faz a economia circular
Outro ponto de destaque da Mega Artesanal 2023 é o impulso trazido, cada vez mais, pelas mulheres. “O artesanato entra de mansinho na vida de um batalhão de mães, como um hobby, depois se torna uma fonte de renda extra e, muitas mulheres ao perceber o potencial de geração de renda do artesanato fazem disso seu principal negócio. Como nosso público é predominantemente feminino, temos um número sem fim de expositoras que começaram assim, o que revela a força, o potencial do empreendedorismo feminino”, conta Rita Mazzotti.
Portanto, segundo Rita, a temática inclusão e diversidade não poderia ficar de fora dessa pauta e o apoio às causas de inclusão de pessoas com deficiência, pessoas negras e incentivo a quebra de padrões inalcançáveis de beleza foi evidenciado em vários estandes. Um bom exemplo é a história do Instituto Preta Pretinha, que há 23 anos confecciona bonecas PcD e pretas, além de ministrar cursos de artesanato em comunidades carentes. “Permitir que as crianças brinquem com brinquedos reais e diversos é essencial para a construção da autoestima na infância. As crianças precisam se sentir representadas em seus brinquedos e um trabalho artesanal, que valoriza a beleza real das pessoas, é o que precisamos para quebrar estereótipos e promover uma sociedade mais justa e inclusiva” comenta Lúcia Venâncio, sócia e artesã do Instituto Preta Pretinha. A Associação de Pintores com Boca e Pés (APBP) também marcou presença na feira apresentando seus artistas e obras, muitas pintadas ao vivo, por seus artífices usando a boca e os pés.
Reaproveitar é preciso
Em todas as edições da Mega Artesanal, conforme explica Rita Mazzotti, todo o resíduo produzido é recolhido pela organização do evento. “Muito do que vemos no artesanato inclui o reaproveitamento de materiais que iriam para o lixo, mas se tornam úteis novamente com a arte. Por isso, é sempre muito importante para nós coletar tudo o que sobra da feira e enviar cada material para o destino correto”, pontua.
Vários são os expositores, de pequeno a grande porte, que se preocupam hoje com a questão ambiental e trabalham nessa direção:
A Castanhal Companhia Têxtil, por exemplo, cria produtos em fibra de juta a partir de uma cultura integrada ao bioma amazônico, plantada nas calhas dos rios, sem agrotóxicos, herbicidas ou fungicidas e adubação natural.
A Feltros Santa Fé produz feltro a partir de garrafas PET, utilizando cerca de 50 garrafas por metro quadrado de feltro. Já a Pingouin lançou os fios EcoJeans, produzidos a partir da reciclagem de aparas de jeans da indústria de confecção e sem passar por processos químicos de tingimento – suas cores são as mesmas das peças de origem e ela, a indústria, também apresenta outra novidade que é a linha Botanique, com o fio cru, isento de processos químicos, com embalagem sustentável (papel semente) gerando zero lixo, economia de água e energia em seu processo de fabricação.
A EuroRoma, do Grupo EuroFios, a maior produtora de fios e barbantes ecológicos do Brasil; a única empresa brasileira que controla todos os processos da cadeia, desde a coleta até a distribuição do produto final e, além disso, toda essa produção é alinhada à economia circular, ou seja, eles produzem 500 toneladas de fios por mês, utilizando apenas material reciclado e sem a necessidade de água ou produtos químicos.
Paulo Roberto Sensi, diretor executivo do grupo, explica que essa ação é extremamente importante, pois economiza uma área equivalente a 4.500 campos de futebol e 14 milhões de litros de água por ano. Isso porque, para se ter uma ideia, cada quilo de algodão consome cerca de 2.330 litros de água de chuva, e se for usado irrigação, esse número pode chegar a 10 mil litros por quilo.
Dados da Agência Brasil indica que a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera, e um levantamento publicado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos, aponta que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados em anos recentes. E a projeção é de um aumento de 60%, ou mais de 140 milhões de toneladas nos próximos oito anos. Especialistas avaliam sobre a necessidade urgente de toda a sociedade, sensibilizar produtores e consumidores, na construção de uma indústria têxtil, de roupas e acessórios, mais sustentável.
Paulo, entretanto, vai mais longe e argumenta que há movimentos nessa direção, “para que possamos levar a indústria têxtil a um topo de sustentabilidade, porém, o que precisamos é de mais iniciativas públicas e de apoio nesse sentido, pois o Brasil é o único país que possui iniciativas de passo a passo e ponta a ponta com toda a cadeia de sustentabilidade da indústria textil” e ações de engajamento local, como as indústrias do Vale do Itajai-SC, um dos maiores polos produtores de vestuário do Brasil, “estão propiciando melhores iniciativas para mudar essa realidade, de uma indústria poluidora, que ainda vivemos, para uma indústria sustentável e circular”, afirma o produtor.
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Sobre a Autora: Rose Campos é jornalista, palestrante, escritora, poeta e apresentadora do Programa Ecos do Meio, na Rádio/TV Mega Brasil. É fundadora da Ecos do Meio Comunicação, entidade que tem como objetivo promover diálogos e ações de conscientização sobre as questões socioambientais e o destino correto, assim como sua transformação em arte, do ‘lixo social’. Contato: ecosdomeio@hotmail.com whatsapp (11) 9 7985-4578.
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