Admirável Mundo Novo, escreve André Oliveira

Resenha 06 – um romance distópico de Aldous Huxley publicado em 1932

Por André Silva Oliveira

As mudanças políticas, sociais e tecnológicas do final do século XIX e início do século XX foram as responsáveis pelo surgimento da literatura distópica, como resposta às utopias – visões de sociedades perfeitas – e a desconfiança sobre os rumos que a sociedade moderna estava tomando. Nestas obras, os autores imaginaram futuros sombrios, com governos opressores, perda de liberdade e o uso abusivo de tecnologias.

Em Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley descreve um futuro em que o controle social é mantido por meio da tecnologia, da manipulação genética e da supressão do pensamento crítico. Ao contrário de regimes brutais, o controle nesta sociedade é sutil e amplamente aceito pela população, que se sente feliz de forma artificial, resultado da manipulação emocional por meio do uso de drogas e da falta de consciência crítica.

A reprodução das pessoas é feita em laboratório e em série, onde a partir de um único indivíduo são produzidos noventa e seis outros idênticos. Durante a concepção em laboratório cada indivíduo é destinado a uma das cinco castas da sociedade, recebendo capacidades intelectuais e físicas necessárias para as atividades que exercerão durante toda a sua vida. Na infância as pessoas são submetidas a diferentes formas de estresse para aprender a se orgulhar de sua condição social, valorizar o que é importante para todos e desenvolver aversão ao que não é, como a busca pelo conhecimento e a capacidade crítica.

Ao ler a obra somos apresentados a diversos conceitos que estavam sendo discutidos no início do século XX, como a produção em massa, simplificação do trabalho, padronização das atividades de produção e incentivo ao consumo de bens e produtos. Inclusive, nesta sociedade, Henry Ford é venerado quase como uma figura divina que representa a máxima eficiência, a uniformidade e a ideia de que o progresso material pode trazer felicidade e estabilidade social.

Na obra Admirável Mundo Novo, também existem os nativos que habitam a Reserva Selvagem e vivem de acordo com tradições e rituais “antigos”. John, filho de uma ex-membro da sociedade moderna e criado na reserva lendo as obras de Shakespeare, é inserido nesse mundo de perfeição tecnológica e conformismo. Seu conhecimento das obras de Shakespeare, com suas reflexões sobre a condição humana, oferece a ele uma visão crítica para perceber e questionar a artificialidade e a opressão da sociedade em que se encontra.

John não consegue se adaptar àquela realidade e luta com todas as suas forças para abrir os olhos das pessoas ao seu redor. Utilizando frases de Shakespeare, ele tenta mostrar que a verdadeira humanidade envolve experimentar uma gama completa de emoções, incluindo as negativas. Ele percebe que aquelas pessoas priorizam o conformismo e a felicidade artificial, negligenciando a liberdade de pensamento e a individualidade. Com isso, John ataca a superficialidade daquelas pessoas, levantando questões profundas sobre a importância da liberdade individual e o direito de cada um ser único.

O fim trágico de Admirável Mundo Novo reflete o colapso emocional de John diante da impossibilidade de mudar a sociedade ao seu redor. Incapaz de aceitar o conformismo artificial do novo mundo, ele se vê preso em um ciclo de dor e desespero. A trajetória de John é semelhante às grandes tragédias de Shakespeare, como Hamlet ou Romeu e Julieta, em que o protagonista é tragicamente derrotado pelas forças do destino. A luta de John o leva a um fim inevitável e devastador, reforçando a crítica de Huxley sobre a desumanização provocada por um regime que prioriza o controle absoluto em detrimento da verdadeira essência humana.

Nota do Editor: Conheça as resenhas anteriores do Eng. André Oliveira publicadas neste Jorna: Leitura é diversão, emoção e conhecimento.

______________________________

Sobre o Autor: André Silva Oliveira é Engenheiro Civil pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e sócio fundador da Inova Energia e Engenharia www.inovaenergia.net.br e https://www.instagram.com/inovaenergia/

______________________________

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

______________________________

Mensagem do editor:

Textos e imagens de propriedade do Jornal Caboclo podem ser reproduzidos de modo parcial, desde que os créditos autorais sejam devidamente citados.

Comuniquem-nos, por favor, de possíveis correções.

_______________________________