Meu amado pai nasceu há 109 anos, escreve Edison Porto
A simplicidade de um barbeiro que me educou
Por Edison Costa Porto
Papai nasceu no dia 18 de dezembro de 1915, na cidade de São Simão, zona metropolitana da cidade de Ribeirão Preto – SP, no Bairro de Bento Quirino.
Filho do italiano José Porto que teria vindo da Calábria, e da vovó Raphaela Langhana que veio de Nápoles. Vovó não veio coma família dela, mas sim com uma família de amigos dos pais dela. A Itália devia estar numa pindaíba danada naquela época, para eles confiarem sua filha numa viagem com outros, buscando um futuro melhor para ela.
Os avós de meu pai, meus bisavós, foram Miguel Porto e Thereza Genincasa do lado paterno e Miguel Napolitano e Joanna Furioso do lado materno.
O nome dele era Eugênio José Porto, mas os amigos o chamavam de Porto, os familiares o chamavam de Zé Porto, a “sobrinhada” o chamava de Tio Zé. O engraçado é que em nossa família havia muitos “Josés”, então era comum eu ouvir um curioso sobrenome: Zé da Célia (meu pai), Zé da Estela (meu primo), e por aí afora…Zé de Rosa; Zé da Cacilda, etc.
Num livro escrito pelo falecido advogado daquela região, Dr. Altino Bondesan, “O Menino Pobre”, há duas referência sobre minha avó Raphaela, numa ele conta que a Comadre Rafaela enviuvou com oito filhos, noutra ele faz uma fala que sempre trazia lágrimas aos meus olhos quando lia: “Comadre Rafaela, com sua penca de filhos, tomou o noturno para Presidente Prudente, emigrava de novo!”
Eu imagino a tristeza e a coragem da vovó, com oito filhos indo para o oeste do Estado de São Paulo, com o caçula no colo, meu pai ainda bebê. Naquela época, 1915, aquela região da sorocabana precisava de mão-de-obra e vinha gente de outros cantos para colher café, algodão, etc. Anos depois a família da minha mãe também partiu de Nova Friburgo RJ, para Presidente Prudente.
Em Presidente Prudente meu pai aprendeu a profissão de barbeiro, parece-me que para ajudar a cortar os cabelos dos “pracinhas” que iam defender São Paulo na Revolução Constitucionalista de 1932. Falando nisso, meu pai serviu o Tiro de Guerra em Prudente, onde aprendeu com o Sargento que tinham que sair para a missão “cagado” e “mijado”. Por isso, sempre que íamos sair para algum passeio ele nos lembrava disso, para irmos antes ao banheiro!
O Sr. Eugênio (havia quem o chamasse assim também) era um homem bem humorado, inteligente, educado, perspicaz e até muito culto para quem só frequentou escola até o nível primário (hoje ensino fundamental). Ele sempre leu muito, hábito que talvez tivesse adquirido na barbearia que recebia os jornais: “O Estado de São Paulo”; a “Folha de São Paulo”; o “Jornal da Tarde” e “A Gazeta Esportiva. Assinavam também as revistas “O Cruzeiro” e “Manchete”. Meu pai nunca teve automóvel e nas viagens de ônibus para o trabalho, sempre tinha no bolso do paletó uma Revisa Reader’s Digest e na pasta um Romance, ou Livro de Poesias. A
Além das leituras, a barbearia tinha uma clientela de empresários e políticos , com Washington Luiz e Carvalho Pinto, além do Poeta Menotti Del Pichia que tinha um Tabelionato na mesma calçada. Enquanto atendidos e mesmo na espera, essas pessoas passavam muitas informações nas conversas sobre tudo, inclusive sobre suas viagens pelo mundo, satisfazendo a curiosidade que meu pai tinha sobre tudo. Ele amava a natureza e conhecer pessoas, tinha muitos amigos e era querido por todos. Ao escrever isso me emociono, porque vejo como passou estas características para mim, quem me conhece sabe!
Ele conheceu minha mãe em Prudente, talvez no “footing”¹ e pelo visto era apaixonado por ela. O meu tio Odil da Silva Costa, irmão caçula de minha mãe era o “segura vela” determinado pelo pai dela (claro não deixavam a donzela sozinha com o namorado), depois e aposentado ele escreveu uma maravilhosa crônica: “O Beijo”, onde ele narra com muito carinho o dia em que viu meu pai dar o primeiro beijo em minha mãe.
Papai contava uma história que para cortar caminho para ir namorar minha mãe, ele cruzava por dentro de um cemitério, mas um dia voltando, já perto da meia-noite, viu duas cabeças largadas lá e que estavam terrivelmente inchadas! Ele tomou um baita susto e nunca mais passou pelo cemitério!
Em Prudente tiveram dois filhos, o Eugênio José Costa Porto (o Zézinho) 11 anos mais velho do que eu, e o Eduardo Costa Porto, que nasceu 7 anos antes de mim. Ambos, infelizmente já falecidos, um dia escreverei sobre eles.
Certamente vislumbrando uma vida melhor, a família se mudou para São Paulo, morando sempre no Bairro do Ipiranga. Lá eu nasci eu em 1954 e no ano seguinte a minha irmã Célia Maria Costa Porto Yamamoto (como eu, ela se casou com nissei, daí a adição do sobrenome japonês).
Ele era um dos quatro sócios de uma grande barbearia na Rua Florêncio de Abreu, 36 – 1º subsolo, o Salão Preferido com 14 cadeiras. Além dos empregados barbeiros, trabalhavam lá uma manicure, a Senhora Nina, e um engraxate que me lembro do jeitão, mas não do nome. A barbearia ficava ao lado do Mosteiro de São Bento, no centro velho de São Paulo. Desde pequeno uma das minhas emoções era ouvir o sino do Mosteiro quando estava na barbearia. E me lembro do telefone de disco preto, da grande caixa registradora, da mesinha cheia de revistas e jornais rodeada por poltronas para os clientes aguardarem sua vez.
São muitas boas lembranças que de vez em quando compartilho em crônicas e vão ficando para meus primos, meus filhos, meus netos. Sou grato ao meu pai por tudo que me ensinou, pelo sacrifício que fez para educar os 5 filhos que lhe deram 18 netos e um montão de bisnetos.
Para saber mais sobre meu pai, conheçam o que escrevi sobre ele em 2019:
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Sobre o autor: Edison Porto, Consultor de Negócios, administrador pela Eaesp/FGV; MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e acadêmico de Jornalismo; Técnico em Agronegócio – SENAR SC; Membro da ACIJO Associação Caçadorense de Imprensa e do Núcleo de Meio Ambiente da ACIC Associação Empresarial de Caçador; Presidente do Conselho Municipal de Turismo 2023/2025 e membro dos Conselhos Municipais de Cultura e do Meio Ambiente. Vice-presidente da OnG de Defesa da Natureza Gato do Mato; Xirú das Falas na diretoria do CTG Estrela dos Pampas. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo. Diretor Conselheiro do Grupo de Teatro Temporá; Detentor da Marca Registrada no INPI: IMPRENAUTAS – Informação e Cultura.
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