Jornal Caboclo

da região do Contestado, SC

Colunas e Opinião

Etarismo e Procrastinação, escreve Rose Campos

Uma Reflexão Sobre a Sabedoria e a Inovação

Por Rose Campos

O início de um novo ano é um momento propício para reflexões e reavaliações, tanto em nível pessoal quanto profissional. A maioria das pessoas que acompanha meus textos sabe que costumo me aproveitar dos ecos do meio para refletir, escrever e, quem sabe agir. Neste contexto, neste começo de ano, deparei-me com dois assuntos que chamaram muito a minha atenção: dois fenômenos que, embora distintos, se entrelaçam de maneira significativa: o etarismo e a procrastinação.

O tema da procrastinação chegou a mim por meio de um artigo no LinkedIn, enquanto o etarismo foi abordado por uma consultora de marketing, que compartilhou sua visão sobre a empresa em que atua e o mercado de trabalho. Ela destacou como essa visão sobre o etarismo pode levar à desvalorização da sabedoria acumulada ao longo dos anos, resultando em “um ciclo de procrastinação” que impede o crescimento e a colaboração intergeracional. Parei, pensei e escrevi!

O Etarismo, portanto, se refere à discriminação e preconceito baseados na idade, afetando tanto jovens quanto idosos. Em muitas culturas, a juventude é celebrada como sinônimo de inovação e dinamismo, enquanto a idade é frequentemente associada à lentidão e resistência à mudança. Essa visão reducionista ignora a riqueza de conhecimento e experiência que os mais velhos podem oferecer. A sabedoria adquirida ao longo de anos de vivência não é apenas um recurso valioso, mas também um guia essencial para a tomada de decisões acertadas.

Já a Procrastinação, como reflexo de preconceitos, muitas vezes vista como uma falta de vontade ou motivação, pode ser entendida de maneira diferente quando analisada sob a lente do etarismo. Quando a cautela e a paciência dos mais velhos são interpretadas como inatividade ou indecisão, há uma tendência de desvalorizar suas contribuições. Essa percepção pode levar a um ambiente de trabalho onde a experiência é vista como um obstáculo, em vez de um ativo. Assim, a procrastinação pode ser uma resposta ao desdém por parte de colegas mais jovens que não reconhecem o valor da reflexão e da espera ou cautela.

Sendo assim, é imprescindível que as empresas realizem uma revisão permanente de suas práticas e atitudes, valorizando a importância da integração intergeracional em um mundo em rápida transformação, impulsionado pelo avanço da tecnologia e pela ascensão da inteligência artificial (IA). A competição no mercado de trabalho está se intensificando, e a IA está mudando a forma como as tarefas são executadas. No entanto, é crucial lembrar que, por trás da tecnologia, existem “seres experientes, pensantes e emocionais”, e a exclusão desses indivíduos pode não apenas empobrecer o ambiente de trabalho, mas também desumanizar a sociedade, criando um espaço onde a diversidade de experiências e saberes é ignorada.

Nesse contexto, é fundamental reconhecer que o verdadeiro potencial de uma equipe reside na capacidade de unir a inovação da juventude com a experiência dos mais velhos. As empresas que reconhecem e valorizam essa sinergia tendem a ser mais bem-sucedidas. A inovação, por si só, é fundamental para o crescimento, mas quando combinada com a experiência, resulta em decisões mais equilibradas e estratégias mais eficazes. Os jovens trazem novas perspectivas e habilidades tecnológicas, enquanto os mais velhos oferecem insights valiosos e uma visão de longo prazo. Portanto, ao promover a colaboração intergeracional, as organizações não apenas enriquecem seu ambiente de trabalho, mas também garantem um futuro mais humano e sustentável.

Uma pesquisa realizada pela AARP (Associação Americana de Pessoas Aposentadas) em 2021 revelou que 78% dos trabalhadores mais velhos acreditam que a discriminação etária é um problema significativo no local de trabalho. Além disso, um estudo de 2020 da McKinsey & Company destacou que equipes diversificadas em termos de idade tendem a ser mais inovadoras e eficazes, mostrando que a experiência e a inovação podem coexistir e se complementar. Assim, promover a integração intergeracional não apenas fortalece as equipes, mas também se torna uma estratégia essencial para enfrentar os desafios do futuro, garantindo que a diversidade de experiências contribua para um ambiente de trabalho mais inovador e colaborativo.

História Viva*

Neste início de ano, é um momento oportuno para que as empresas considerem reavaliar suas políticas e práticas de recrutamento e gestão de talentos, buscando um alinhamento com os conceitos de ESG (Ambiental, Social e Governança). Os departamentos de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas, como apropriadamente se esta denominando atualmente, podem desempenhar um papel fundamental ao promover um ambiente inclusivo que valorize todas as idades, contribuindo para a responsabilidade social das organizações. Uma abordagem interessante seria a realização de workshops sobre etarismo e suas implicações no ambiente de trabalho, incentivando a conscientização sobre a importância da diversidade etária.

Além disso, é essencial criar programas de mentoria que conectem jovens e mais velhos, facilitando a troca de conhecimentos e experiências valiosas. A implementação de políticas que reconheçam e recompensem a experiência dos colaboradores mais velhos também é um passo importante, incentivando-os a compartilhar suas habilidades e sabedoria. Cultivar uma cultura onde todas as vozes sejam ouvidas, independentemente da idade, é crucial para promover um ambiente de respeito e cooperação, refletindo os princípios sociais do ESG e fortalecendo a coesão da equipe.

A integração intergeracional, portanto, não só enriquece o ambiente de trabalho, mas também fortalece a capacidade das empresas de inovar e se adaptar às demandas do mercado. Ao eliminar preconceitos etários e valorizar a diversidade de experiências, as organizações podem criar um espaço mais produtivo e equilibrado. Neste novo ano, é essencial que o compromisso com a inclusão etária e as práticas de ESG seja uma prioridade, promovendo um ambiente onde todas as gerações contribuam de maneira significativa para o sucesso coletivo. Assim, avançaremos juntos, construindo um futuro mais colaborativo e sustentável.

Obs.: A AARP (American Association of Retired Persons) frequentemente realiza estudos sobre etarismo no local de trabalho, e a McKinsey & Company também publica relatórios sobre diversidade e inclusão, incluindo a diversidade etária.

*Projeto História Viva – Iniciativa da Ecos do Meio que visa fomentar diálogos enriquecedores entre profissionais veteranos e jovens aprendizes. O projeto busca promover a troca de experiências e conhecimentos, fortalecendo a conexão intergeracional e valorizando a sabedoria acumulada ao longo das trajetórias profissionais.

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Sobre a Autora:  Rose Campos é jornalista ambientalista, pós graduada em neurolinguística. Assessoria e mentoria em comunicação e sustentabilidade, palestrante, escritora, poeta e apresentadora do Programa Ecos do Meio, na Rádio/TV Mega Brasil. É fundadora da Ecos do Meio Comunicação, entidade que tem como objetivo promover diálogos e ações de conscientização sobre as questões socioambientais e o destino correto, assim como sua transformação em arte, do ‘lixo social’. Foi diretora da Associação Paulista de imprensa e Conselheira da ACSP – Associação Comercial de São Paulo por mais de seis anos. Colaboradora do Jornal Caboclo. Contato:  ecosdomeio@hotmail.com 

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P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

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