Jornal Caboclo

da região do Contestado, SC

Colunas e Opinião

Filmamos o Leão-baio em Caçador – SC, escreve Anderson Copini

O Puma foi registrado na Floresta Nacional de Caçador em Julho de 2021

Por Anderson Clayton Copini

Como parte da minha tese de mestrado eu realizo o Projeto Conservação de Carnívoros, na Unidade de Conservação Floresta Nacional de Caçador, conhecida como FLONA, que é gerenciada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.

Como pesquisador, mestrando do Programa de Pós Graduação de Ecossistemas Agrícolas e Naturais da UFSC, consegui autorização junto ao ICMBio para realizar minha pesquisa nesta Floresta, que será a base de minha tese: Conservação de mamíferos carnívoros na Unidade de Conservação FLONA Caçador e propriedades rurais confrontantes.

Cachorro-do-mato

Ao percorrer o território da FLONA localizado no município de Caçador estado de Santa Catarina, observei vários vestígios de animais silvestres como irara (Eira barbara), cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) felinos de médio porte entre eles gato-do-mato (Leopardus gutullus), Gato maracajá (Leopardus wiedii) e o famoso Leão-baio (Puma concolor), além da presença de vestígios de cervídeos, mas como o foco do meu projeto são os carnívoros, a minha atenção ficou voltada aos espécimes descritos anteriormente.

Como o intuito do projeto é levantar dados científicos, tanto para a tese de mestrado, quanto para a própria FLONA, pois este é o primeiro estudo a ser realizado nesta Unidade de Conservação (UC), todas as informações serão armazenadas em disco rígido de notebooks, drivers virtuais e pen drives, dos quais fornecerei cópias para a gerência da UC, para que, posteriormente, sejam apresentadas aos turistas visitantes, podendo demonstrar para as pessoas a fundamental importância na conservação dos animais silvestres que as Unidades de Conservação têm.

Gato-do-mato

Em 2021 iniciamos as campanhas, saídas de campo para colocar e/ou averiguar câmeras, pegadas e outros vestígios dos animais. São esforços necessários para encontrar e registrar o maior número de Carnívoros selvagens na região.

 As campanhas são cansativas e exaustivas primeiramente porque, para colocar um equipamento para registrar um animal desse porte, é preciso muita caminhada e força de vontade para desbravar trilhas, florestas, passar por muito barro, frio, sede e fome. Somente depois de todos esses obstáculos, e com as localizações com maior número de vestígios, é que se colocam os equipamentos de registros.

As câmeras utilizadas são modelos HC 901 e podem ser configuradas durante 24 horas/dia para levantar o maior número de informações possíveis desses animais, pode-se dizer que algumas espécies são ativas durante o dia, mas a maioria é mais ativa durante a noite, baseado nessas informações o registro foi configurado para 24 horas.

As câmeras foram posicionadas em trilhas que apresentavam encruzilhadas, pois muitos animais podem percorrer vários caminhos ao mesmo tempo e, nas partes onde existe um cruzamento, as chances de se registrar mais de uma espécie, é muito maior do que em uma única trilha.

Foram vários dias de espera, muitas horas de filmagem, até que os frutos do trabalho começaram a aparecer. As primeiras imagens e vídeos aconteceram com o famoso Graxaim ou Cachorro do Mato.

Logo após, em outras semanas apareceu um felino de médio porte, entre 4 a 6 Kg conhecido como Leopardus gutullus, ou seja, o gato do mato. Ficamos com a expectativa de registrar também o Gato Maracajá, uma espécie que aparentemente se encontra no livro vermelho de fauna silvestre como espécie ameaçada de extinção, por seu hábitat natural estar cada vez mais fragmentado e por elevado número de atropelamentos dos exemplares em rodovias, mas ele ainda não apareceu.

Foram muitas idas e vindas nas campanhas, trocando as baterias, realocando câmeras de local em local, fazendo manutenção nas mesmas até que um belo dia, o pesquisador chegou no local das câmeras para trocar pilhas e cartões de memória e… Finalmente!!!! O grande astro apareceu. Com aproximadamente 70 Kg uma postura de espécie dominante, passando lentamente em frente às câmeras, com sua coloração única e inconfundível o famoso Puma.

Na hora me lembrei de outro trabalho realizado um ano antes, em uma propriedade não muito distante da FLONA, em que duas campanhas de campo foram montadas para tentar registrar o Puma que passava na região e, tinha abatido dois cães domésticos. Estas duas campanhas foram descritas em matéria do jornal Caboclo, realizada pelo seu editor, Edison Porto: “O Leão-baio anda pelo município de Caçador”. Ela pode ser lida em:

O Leão-baio anda pelo município de Caçador, escreve Edison Porto

O assunto ficou em aberto e com certa frustração de vários colaboradores da Ong Gato do Mato que participaram desta busca por vestígios e registros do Leão-baio, como é chamado na região o Puma. Naquela época não se conseguiu registrar este lendário caçador regional.

Para finalizar aquela matéria neste ano, agora com sucesso, temos o registro do Leão-baio, o Puma, na imagem de capa deste artigo, e também num filme juntando as imagens de um animal adulto, captadas pela câmera em dois momentos, em 05 de julho cerca de 1h38m e em 06 de julho às 23h53m e do que parece ser um filhote captada a 1h e 6 minutos da manhã do dia 08 de julho

São Imagens que mostram o majestoso animal da fauna brasileira, o Puma concolor, chamado de Puma, Onça Parda, e aqui no Sul do Brasil de Leão-baio.  É o segundo maior felino do nosso país e das Américas,  com orgulho por nós registrado no município de Caçador/SC, dentro da Unidade de Conservação FLONA, de gerenciamento do ICNBio, vejam no vídeo do Canal Imprenautas Natureza que também exibe o filme com imagens do Cachorro do Mato (Cerdocyon thous) e do Gato do Mato (Leopardus gutullus), “links” a seguir:

Puma concolor

­­­_____________________

Sobre o Autor: Anderson Clayton Copini, pesquisador, formado em Ciências biológicas pela Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP, mestrando pelo Programa de Pós Graduação Ecossistemas Agrícolas e Naturais da UFSC Curitibanos. Trabalha com licenciamento ambiental com ênfase em estudos com mamíferos selvagens. Presidente da ONG Gato do Mato, de Caçador, SC.

Nota do Editor 1: Com base nesta matéria a RBV Notícias entrevistou o Biólogo Anderson Copini e com autorização do Jornal Caboclo e do Canal Imprenautas Natureza, utilizou filmes e fotos de Edison Porto e produziu a seguinte matéria, bastante interessante de ser conhecida: https://portalrbv.com.br/biologo-registra-leoes-baios-em-sc-um-deles-e-filhote/ cujo filme também pode ser visto diretamente neste link do Youtube:

Nota do Editor 2: Para mais informações da FLONA, indicamos:

https://uc.socioambiental.org/pt-br/arp/1293

https://www.ibama.gov.br/component/legislacao/?view=legislacao&legislacao=133107

https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/mata-atlantica/lista-de-ucs/flona-de-cacador

____________________

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores

Mensagem do editor:

Textos e imagens de propriedade do Jornal Caboclo podem ser reproduzidos de modo parcial, desde que os créditos autorais sejam devidamente citados.

Comuniquem-nos, por favor, de possíveis correções.

__________________________

4 comentários sobre “Filmamos o Leão-baio em Caçador – SC, escreve Anderson Copini

  • Excelente trabalho. Parabéns. É imprescindível que se crie uma consciência de preservação ambiental com abrangência total, sobre fauna e flora, neste nosso Brasil.
    Não se pode permitir a caça em qualquer lugar que seja, pois é uma prática de seres covardes que não respeitam a vida, nem seus semelhantes, a si mesmos e não temem a Deus.
    Parabéns pelo trabalho

    • Lauro, obrigado pela mensagem, eu me chamo Anderson e sou o pesquisador da matéria.

  • É muito importante esse registro para a preservação do ecossistema e de nossa Mata Atlântica…
    Esse felino se encontra na lista de animais em extinção, desse modo, vocês possuem uma estimativa de quantidade dessa espécie hoje e o que significa o registro da mesma para o equilíbrio ambiental: fauna, flora e a vida humana?
    Qual a pegada da preservação e conscientização ambiental hoje?
    Vida longa as suas pesquisas e seus ecos à sociedade, que tanto carece de boas informações e educação ambiental!

    • bom dia Rose, desculpa não responder antes. Respondendo as perguntas: Ainda não temos uma estimativa de quantos animais existem em nossa região, pois necessitamos de recursos para realizar tal trabalho, não temos apoio financeiro de nenhuma empresa ou instituição financeira. Respondendo a pergunta dois: o significado desse registro, simplesmente mostra que animais em extinção podem ser encontrados se a conscientização for aplicada juntamente com ferramentas jurídicas (leis ambientais) e com programas de Conservação e Preservação. E no que diz respeito ao equilíbrio, podemos ressaltar a existência de locais bem preservados e Unidades de Conservação que lutam diariamente para que, as espécies da flora e fauna possam prevalecer entre avanços antrópicos.

Fechado para comentários.

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial