O rock progressivo da Banda YES – uma viagem astral, escreve Wagner Borges – Parte 2 de 4
Rick Wakeman e o YES, divergência e profissionalismo
Por Wagner Borges
Bom, antes que o nosso amigo editor reclame do tamanho desse texto, vamos as perguntas e respostas sobre “Tales From Topographic Oceans”.
É verdade que foi por causa de “Tales from Topographic Ocean” que Rick Wakeman saiu do Yes pela primeira vez?
Em parte, sim. Wakeman não concordou com a temática do disco. Quando Jon Anderson (bastante empolgado e absolutamente encantado com as idéias hindus inseridas nas composições) e Steve Howe (bem menos empolgado que Anderson, mas influenciado fortemente por ele) apresentaram o esquema das letras e das melodias aos outros componentes do grupo e aos empresários da gravadora, Wakeman simplesmente saiu da sala extremamente aborrecido. Também Squire e White ficaram impactados com a proposta do disco. Estando a cargo dos dois a parte rítmica (baixo e bateria), ou seja, a cozinha sonora, base e força que daria a sustentabilidade e o contraponto ao tapete sonoro dos teclados e aos rifs de guitarra, eles não compreendiam bem o motivo daquelas letras falando de temas etéreos. Mas, Anderson persuadiu os dois a embarcarem em sua aventura espiritual-sonora.
Wakeman participou desse disco a contragosto. Segundo suas declarações à época, havia muita “encheção de linguiça” nas músicas. Ou seja, muitas seções foram ampliadas exageradamente, o que tornou o disco repetitivo e maçante, mesmo para os fãs do grupo. Na verdade, sua crítica tinha procedência. Se o grupo houvesse trabalhado as músicas de maneira mais simples e com duração menor nas mesmas, o disco teria sido um estrondoso sucesso.
Além desses fatores, o primeiro disco solo de Wakeman, o maravilhoso “The Six Wives of Henry Vlll” (“As Seis Esposas de Henry Vlll”; 1973), se tornara um sucesso de crítica. Isso o motivou a tentar uma obra mais ambiciosa ainda: “Journey To The Centre of The Earth” (“Viagem Ao Centro da Terra”;1974), seu maior sucesso até hoje. Como ele estava descontente com o rumo que a música do Yes estava tomando e seus trabalhos solos estavam tendo boa aceitação, ele planejou sua saída da banda. Mas, esse descontentamento não empanou o brilho nas seções de teclados a seu cargo no disco. Acima de tudo, muito embora Steve Howe dissesse à época que ele não era sério, seu lado de músico profissional prevaleceu e seu trabalho nesse disco é fantástico.
O comentário ferino de Howe tinha um motivo: por essa época, Wakeman levava uma vida desbragada demais. Bebia muito e era extravagante. Tanto que dois anos depois, em plena turne solo, sofreu sérios problemas cardíacos. E teve que mudar vários hábitos para sobreviver. Há outro fato que convém considerar: com exceção de Wakeman, o resto do grupo era vegetariano. Inclusive, certa revista de rock estampou em suas páginas a foto de Wakeman comendo um hambúrger. Tudo isso foi gerando um grande mal-estar que acabou levando-o a desligar-se da banda logo no início de 1974, pouco depois do disco ter sido lançado.
Por que o disco só tem quatro músicas apenas? Sendo um álbum duplo eles não poderiam ter feito algo mesclado, unindo o conceito principal do disco com temas mais simples?
Na concepção de Jon Anderson não dava para fazer dessa maneira. Ele queria subdividir o tema em quatro seções básicas, de modo que o ouvinte mais atento pudesse perceber uma mensagem espiritual inserida nas palavras.
Em seu livro “Yes, But What Does It Means?”, Thomas J. Mosbo comenta isso da seguinte forma: “Não surpreende que “Tales From Topographic Ocean, talvez a única sinfonia de rock verdadeira, tenha permanecido mal entendida, mal apreciada, freqüentemente caluniada e em geral não escutada, exceto pelos fanáticos fãs do Yes, desde sua criação em 1973.
Porém, as sinfonias não estão isentas de que exista um tema determinado que lhes haja inspirado um conceito básico. Isso é o que Anderson encontrou nas escrituras hindus, ainda que seu desenvolvimento não implica na relação de uma história com personagens, uma trama e um desfecho convencional. Também não se pode dizer que suas letras não contenham uma mensagem ao ouvinte. Porém, não está elaborado de forma operística, não narra acontecimentos e nem sagas, e isso se deve a que o conceito, basicamente religioso, que a inspirou e condicionou sua música é estático. Mais do que eventos ou acontecimentos dinâmicos, evoca imagens e climas criados para produzir impressões e estados de ânimo.
Além de qualquer significado real nas letras, a combinação de sons nas palavras contribuem com o efeito auditivo da música, mesmo na condição de que se alguém não entende certa linguagem, como pode acontecer ao escutar a música “The Ancient” (“Os Antigos”), os sons cantados poderão levá-lo a uma percepção da intencionalidade determinada ali inserida.”
Você pode explicar em detalhes as quatro músicas?
A primeira parte (antigo lado 1 do disco de vinil duplo) é “The Revealing Science of God – Dance of the Dawn” (“A Ciência Reveladora de Deus – Dança da Aurora”). Essa parte é descrita por Jon Anderson assim:
Primeiro Movimento: SHRUTIS (do sânscrito: “Textos Sagrados”; “Revelações Sagradas”).”
“A Ciência reveladora de Deus pode ser vista como uma flor permanentemente aberta, da qual emergem as verdades simples, registrando as complexidades e a magia do passado, e fazendo-nos ver que não deveríamos esquecer nunca a canção que nos foi dada escutar. O conhecimento de Deus é uma indagação objetiva e constante.”
Essa primeira música tem tudo de bom do Yes clássico: uma letra inspirada (“Amanhecer da luz”, “Amanhecer do pensamento”, “Amanhecer de nosso poder” e “Amanhecer do amor”), bons momentos de teclado e guitarra e a voz de Anderson em momento muito inspirado. Para muitos, essa é a melhor música do disco. Em minha opinião, Steve Howe e Rick Wakeman estão fantásticos nessa seção. Novamente, volto a pensar: se essa música fosse mais curta teria sido um grande sucesso da banda.
Bibliografia:
– “Seventh Heaven Vol. 3” (revista argentina; há uma matéria especial sobre “Tales From topographic Oceans” nas págs. 1-20). Essa revista fundiu-se com a revista “Mellotron”, uma das melhores publicações de rock progressivo do mundo.
– Livro: “Yes, But What Does It Means”; Thomas J. Mosbo.
– Livro: “Yes, Uma Rara Música de Quinteto”; Décio Estigarribia; Editora Muiraquitã; Niterói, Rio de Janeiro.
Nota do Editor: Esta é a “Segunda Parte” de um total de quatro partes que o Jornal Caboclo publica, dividindo e adaptando, matéria originalmente publicada no Jornal Metamúsica Nº 09 – Ano 2000
A Parte 1 pode ser conhecida em:
http://jornalcaboclo.com.br/index.php/2019/04/20/o-rock-progressivo-da-banda-yes-uma-viagem-astral-escreve-wagner-borges-parte-1-de-4/
– A próxima publicação, Parte 3, está em: http://jornalcaboclo.com.br/index.php/2019/05/15/o-rock-progressivo-da-banda-yes-uma-viagem-astral-escreve-wagner-borges-parte-3-de-4/
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Sobre o autor: Wagner D’Eloi Borges, nascido no Rio de Janeiro em setembro de 1961 – é pesquisador espiritualista, projetor extrafísico, conferencista, consultor da Revista UFO e colaborador de várias outras revistas como, Sexto Sentido, Espiritismo e Ciência, Revista Cristã de Espiritismo, Caminho Espiritual, e Consciência Desperta.
É escritor – autor de doze livros dentro da temática projetiva e espiritual, dentre eles a série “Viagem Espiritual”, sobre as experiências fora do corpo.
É colunista do Portal SomosTodosUm – www.somostodosum.com.br, e do Site do IPPB: www.ippb.org.br, dentre outros.
P.S. : Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores
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