Jornal Caboclo

da região do Contestado, SC

Colunas e Opinião

Vivendo um apagão, escreve Edison Porto

Dependemos da eletricidade para tudo

Por Edison Porto

Noite de sexta-feira, 28 de maio, a vida seguia sua rotina, com muitos arroubos de “sextou” dando as boas-vindas ao último fim de semana do mês. Por volta das 23h, não sei ao certo porque já estava dormindo, a cidade de Caçador ficou sem energia elétrica. Logo depois ficamos também sem o fornecimento de água.

Foi uma noite de tempestade de raios, trovoadas estrondosas, muito vento e pancadas de chuva. Era compreensível que algum problema causado pela tempestade pudesse ter interrompido o fornecimento de energia elétrica, aliás, como costuma acontecer por aqui.

No entanto, amanhecemos o sábado, sem energia elétrica, sem água da rua e como não havia estações de rádio funcionando na cidade, não sabíamos os motivos. Para ouvir outras cidades, só para as pessoas que ainda possuem rádios à pilha, o que deve ser uma minoria. Sem TV, sem internet, nem todas operadoras de telefonia funcionando, e as baterias dos aparelhos celulares acabando. Estávamos isolados do resto do mundo.

Ninguém sabia dizer ao certo o que tinha acontecido, as informações eram desencontradas, mas em geral apontavam para quedas de Torres de Transmissão de Energia na cidade de Campos Novos, cerca de 110 km distante de Caçador (por estradas). Teria sido um tornado o causador do problema. Mas e daí?  Qual a expectativa de solução? Nenhuma, não havia informação oficial circulando, mesmo porque não havia meios para esta circulação. Algo a se pensar, como carros de som da Prefeitura ou da Defesa Civil, informando as pessoas bairro a bairro.

A primeira noite sem energia não nos afetou muito, afinal o apagão se iniciou quando a maioria da população já estava dormindo ou prestes a se deitar numa sexta-feira fria e chuvosa. Mas a noite de sábado foi traumatizante, viciados que somos em TV, Filmes, Redes Sociais (Facebook, Instagram, Whatsapp, etc.). Sem contar a falta de um chuveiro quente para o banho (certamente alguns “enforcaram” o banho de sábado, aguardando a volta da energia).

No domingo, ainda sem energia elétrica, as pessoas foram se dando conta da seriedade da situação, preocupados com a duração do problema, porque já no sábado, vários Postos de Gasolina não tinham como fornecer.  O comércio só vendia a dinheiro, porque as máquinas de cartões não funcionavam. Moradores de edifícios não tinham elevadores e o jeito era subir e descer escadas. Peças de roupa essenciais, começaram a ser lavadas à mão!

Na tentativa de se ter aparelhos de celular funcionando as baterias foram se acabando. Assim como, as de notebooks, tablets, etc. As distrações digitais desapareceram, o contato com familiares e amigos ficou impossibilitado. Curiosamente, não é mais costume se fazer uso da telefonia fixa, mas quem a tem, ainda teve como fazer chamadas para outras cidades em busca de notícias. E foi assim que alguns conseguiram saber de parentes em Florianópolis a confirmação dos estragos do Tornado em Campos Novos.

Foi um fim de semana muito estranho, totalmente fora da rotina. As pessoas ficaram perdidas, imagino que alguns procuraram se distrair lendo livros, jogando baralho e coisas assim, como fizemos em casa, com nosso filho e alguns amigos, uma “vibe” diferente.

Somente na segunda-feira as informações foram ficando mais claras, porém as previsões de retorno à normalidade continuaram desencontradas. Alguns Postos de Gasolina estavam funcionando (com gerador) e as filas ficaram quilométricas. O preço dos maços de velas mais que dobrou e em alguns lugares desapareceram.

Os alimentos começaram a se estragar em geladeiras e freezers e os mais espertos foram organizando o consumo e doando para não ocorrer um desperdício total.  Todos estes desconfortos não sofreram quem faz uso da energia solar, ou de aquecimento à gás, mas obviamente é uma pequena minoria.

Muitos tentavam carregar os aparelhos celulares nos automóveis, mas não é uma forma muito eficiente. Alguns supermercados, com uso de geradores, disponibilizaram réguas de tomadas para quem quisesse fazer uso, assim também agiu solidariamente a provedora de internet, GGnet, onde se formaram filas com gente levando banquinho para esperar seu aparelho carregar.

Uma famosa operadora de telefonia ficou morta no fim de semana e só começou a dar sinal de vida na segunda-feira. Nas empresas que possuem gerador, os funcionários chegavam com sacolas de aparelhos e lanternas para carregar durante seu trabalho. Todos esperando que a energia voltasse à noite, ou durante a madrugada como as autoridades locais anunciaram.

Nada mudou e tivemos mais uma noite de apagão, e banho de canequinha…brrrr. Estamos na terça-feira e continuamos na expectativa que o tormento termine até a noite.

O ser humano não consegue enfrentar os fenômenos da natureza. Empresas e suas tecnologias tentam se prevenir, mas nem sempre conseguem evitar transtornos como este, por isso, existem os planos de contingência, que me parece não existia neste caso de fornecimento de energia para a cidade de Caçador e suas vizinhas.

Espera-se que muitas lições tenham sido aprendidas, que as autoridades cobrem quem de direito para que não se tenha novamente milhares de pessoa sem a tão necessária energia elétrica. Empresas de telefonia devem procurar alternativas para se manter operando, afinal seu serviço é essencial para a população e ficaram um bom tempo sem ter renda por este serviço.

Neste período tivemos uma pequena amostra do terror que sofrem as pessoas que vivem em cidades em guerra, sem comunicações, energia, algo e até sem teto e ainda por cima sob  fogo de artilharia, bombas, minas e mísseis. 

Isolados que ficamos durante o apagão, não sabemos o que foi noticiado para o resto do Brasil, o que teria sido informado pelas redes de TV? Estranhamente, amigos e parentes, tanto da Capital de São Paulo, como da Capital do Rio de Janeiro, informaram que não souberam deste apagão que já dura quatro dias! Será que o interior de Santa Catarina foi esquecido?

Não sabemos quando poderemos voltar ao conforto de tomar um banho de chuveiro quente, assistir TV e navegar pelas redes sociais. Todas as previsões feitas pelas empresas e autoridades não têm se concretizado. Aparentemente teremos mais uma noite no escuro, tomando banho de canequinha, no total desconforto e com empresas e comércio amargando prejuízos. Mas….a última previsão é que esta noite a energia voltará para Caçador e a esperança é a última que morre!

Quanto mais conforto temos, mais dependentes dele ficamos!

Nota do Autor 1: Fotos que circularam pelo “whatsapp”.

Nota do Autor 2: Após a publicação deste artigo voltou o fornecimento de energia na cidade de Caçador, por voltas de 22h30m, depois de quatro dias. A cidade ficou em festa com gritos e fogos de artifício em vários bairros!

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Sobre o autor: Edison Porto, administrador pela Eaesp/FGV; MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e Jornalismo; Técnico em Agronegócio pelo SENAR SC; Membro da Associação dos Amigos do Museu do Contestado de Caçador, da Associação Cultural Coração do Contestado de Lebon Régis, da ACIJO  Associação Caçadorense de Imprensa e do Núcleo de Comunicações da ACIC Associação Empresarial de Caçador. Membro dos Conselhos Municipais de Turismo e de Cultura de Caçador. Participa da ONG Gato-do-Mato. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo.

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

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