Jornal Caboclo

da região do Contestado, SC

Crônica

“O lugar está às traças…”, disseram vereadores sobre ginásio da escola Eurico Pinz

por Renato Renato

A sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Fraiburgo da segunda-feira (29 de maio) se aproximava do fim de sua chamada ordem do dia ou mais precisamente depois de 10 tópicos, entre indicações e um projeto de lei complementar, apreciados, discutidos e concluídos por um recorrente “APROVADO POR DEZ VOTOS, SENHOR PRESIDENTE!”, no dizer da figura do 1º secretário da mesa, quando veio à tona a indicação de número 192/2017, de autoria dos vereadores Marcos Adriano Palaoro, o Marquinhos e Adelar Ribeiro da Silva, o Lale, que textualmente pediram, conforme o que se entende por indicação, para que a Prefeitura local dê continuidade no ginásio da Escola de Ensino Fundamental Eurico Pinz e promova a realização da pintura externa na escola.

Até ali, tudo ok para quem pode presenciar pessoalmente a sessão ou para quem por motivo de força maior deixou para ouvir o áudio da sessão no conforto de sua casa no dia seguinte, na noite de terça-feira (30 de maio); um áudio da sessão reproduzido por uma emissora que tem, a propósito, o hábito estranho ou não jornalístico de ocultar a simples citação cordial do nome de demais veículos de comunicação em sua programação diária; digo “hábito estranho” ou “não jornalístico” porque numa cidade com menos de 40 mil habitantes os veículos de comunicação deveriam agir como coirmãos, o que implicaria considerar tal comportamento como um traço mínimo de correção profissional.

Mas cortemos para o que mais importa nesta declarada crônica: a entrada em cena do 11º tópico da ordem do dia da sessão de 29 de maio, quando (aqui apenas imagino a pintura da cena, por ter ficado com a reprodução do áudio da sessão no dia seguinte) o vereador Marquinhos subiu à tribuna e proferiu as seguintes frases: “Moradores nos procuraram”, “Que o município dê continuidade na reforma de escolas, do ginásio”; “São Miguel só tem um ginásio, o do Caic”. Confesso que fui anotando tais frases, sem imaginar que eu pudesse variar um pouco o estilo, parafraseando um dito, que eu pudesse mudar da notícia para a crônica. “Estivemos lá”, disse Marquinhos em final de fala de tribuna. Ele quis dizer: Estivemos lá; Aldelar e eu estivemos na escola, vimos o problema.

Quando meus plebeus ouvidos deram conta de si, comecei a ouvir a fala do vereador Rodrigo de Lara. E não nos esqueçamos, nesta crônica eu me encontro no conforto de um lar, quem sabe numa tentativa de esquentar os pés enquanto uma chuvinha cai mansa lá fora. Súbito, esqueço de mim e ouço: “O que me estranha… O que me estranha é dizer que a escola está às traças”, discursou o líder do Governo em resposta a um discurso anterior. Se deixei de anotar com a minha bic cor azul, o vereador Marquinhos havia dito algo do tipo: “O lugar estás às traças…”? Neste ponto da apreciação e discussão da indicação de número 192/2017. Nesta passagem do vereador Lara, eu reproduzo o mesmo padrão verificado na reprodução da fala do vereador Marquinhos. Não por interesse estilístico, mas o áudio com o discurso do vereador Lara revelaria uma fala pausada, de quem se segura para dizer algo ou quem busca ter todo o cuidado diante de uma discussão instalada.

“O lugar está às traças”, de certo, ecoou mal no ouvido do vereador da situação. Confesso que eu como mero ouvinte, até ontem apenas um repórter que não queria expor o seu lado de cronista, fiquei ligado ao desdobramento do discurso (ação!) de Marquinhos e do contra discurso (reação!) de Lara, um líder do Governo cumprindo o seu devido papel: o de defender a Administração municipal da prefeita Claudete Gheller. “A gente tem que ver a discussão. Mas não aquilo que não convém”, dissera Lara seguindo seu discurso de tribuna. Interpretei que ele tivesse dito algo do tipo: é válida a discussão, meus nobres pares, mas a forma como a discussão é encaminhada também importa.

Ainda tinha mais, meus caros e nobres leitores do Jornal Caboclo, ainda tinha mais.

A indicação de número 192/2017 tinha dois autores, e o segundo deles então sobe à tribuna na sequência e destaca em frases que aqui disponho como bem consegui anotar, tal o impacto de surpresa com a discussão, que a esta altura me envolve: “Está jogado pras pragas”; “Tá feio e a população precisa saber”. Foram duas das falas do vereador Lale que puseram em evidência um problema, que vem de 2014. Que vem da gestão anterior. Dirá outro: que vem que vem ou vá lá.

Ainda tinha mais, meus caros e nobres leitores do Jornal Caboclo, ainda tinha mais.

“Não é vossa excelência que tem que dizer o que fazer”, disse Lale, numa referência a uma fala do líder do Governo. “Cada um sabe o seu papel”, acrescentou Lale. “Precisamos saber as respostas”.

Ainda tinha mais, meus caros e nobres leitores do Jornal Caboclo, ainda tinha mais.

O vereador Toni sobe à tribuna. Diz: “Nós temos que nos respeitar”; “Todas as vossas excelências têm razão”. “Usar o argumento que está às traças, não está bem assim. Assim nós vamos desmerecer a nossa secretária”. A secretária municipal da Educação, Cultura e Esportes estava presente à sessão e todos os vereadores ou todos os presentes à sessão, a população do São Miguel e arredores, onde fica a escola, mais aqueles antenados e críticos às questões sociais de Fraiburgo e os ouvintes da reprodução do áudio do dia seguinte na rádio local, a nossa excelentíssima Rádio Fraiburgo, todos pudemos então saber um pouco sobre um fato ou da importância de se dar continuidade no ginásio da Escola de Ensino Fundamental Eurico Pinz e promover a realização da pintura externa na escola.

Em tempo: Lara ainda iria sugerir que se tivesse feito um requerimento, em vez de uma indicação.

Ainda tinha mais? Vieram discursos do vereador Altair, nova intervenção do vereador Adelar, nova intervenção do vereador Marquinhos, um discurso da vereadora Marta e um encaminhamento para o fim desta crônica, ops, para o fim desta dita matéria. Que termina como tinha que ser: com a locução reproduzida da figura do nobre 1º secretário da mesa.“A Indicação de número CENTO E NOVENTA E DOIS BARRA DOIS MIL E DEZESSETE foi aprovado por dez votos, senhor presidente!”.

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Sobre o autor: Renato Renato, editor do Jornal Caboclo.

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