Jornal Caboclo

da região do Contestado, SC

Colunas e Opinião

A intrigante relação de Concórdia com a Guerra do Contestado, escreve Edison Porto

Visita ao Museu revela fatos chocantes sobre o que seria a origem do nome da cidade de Concórdia.

Por Edison Porto

Ao lado da escultura de uma silhueta de um homem com chapéu, representando o Agrimensor Victor Kurudz, está sua frase: “Diante do que acabamos de combinar, do que acabamos de concordar, este lugar passa a ter o nome de Concórdia.” Mas o que é que foi combinado e acordado?

Esta é uma questão para os pesquisadores e historiadores responderem, mas juntando os fatos já bem conhecidos e a narrativa do Professor de História, Sr.  Raul Kussler, responsável pelo Museu Histórico Hernano Zanoni, parece que se repetiu ali mais um episódio da chamada “Operação Branqueamento” que teria ocorrido a partir de 1916, final oficial da Guerra do Contestado, com relatos até 1918 e, possivelmente anos depois, como este caso de Concórdia com eventos que vão até por volta de 1924, com trágico desfecho, aparentemente sem comprovação documental.

Esta operação seria a eliminação do povo caboclo, uma limpeza étnica, para dar lugar aos imigrantes europeus que chegavam, em grande parte, através do Rio Grande do Sul. Eram Italianos e alemães em sua maioria, dispostos a se fixar na região, rica em madeira e de erva mate; com natureza que lembrava as paisagens de suas terras de origem na Europa.

Com o fim da Guerra do Contestado, mas ainda perseguidos, muitos caboclos se deslocaram para outras regiões, formando redutos como o que existiu nas terras da hoje cidade de Concórdia, alí ocuparam toda a região em torno de onde é hoje a praça principal.

Centro de Concórdia

Estes caboclos tinham grande respeito ao desertor do exército brasileiro do Rio Grande do Sul, José Fabrício das Neves, a quem nomearam Coronel Fabrício. Homem de muitas andanças (e mulheres), circulou bastante, entre Paraná e Santa Catarina, teve residência em Itá (SC) e é considerado o pioneiro na colonização de Concórdia.

Cel Fabrício lutou na histórica batalha do Irani em 22 de outubro de 1912, ao lado do Monge José Maria e outros personagens históricos como Juca Perão, avô do pesquisador Vicente Telles (1931-2017), aliás, no amanhecer daquele dia, o Monge prevendo que ia morrer, disse a Fabrício das Neves que ele continuasse liderando os caboclos.

Pois bem, Victor Kurudz, veio da Romenia na época da Primeira Guerra Mundial para a região do Irani, depois sua família foi para Curitiba, ele foi o agrimensor a serviço de Percival Farqhuar e a Brazil Railway que transferiu suas concessões de terras para a subsidiária Brazil Developmente & Colonization Company, da qual foi funcionário também.  Esta empresa perderia o direito às concessões se não as colonizasse, por isso ela passou as terras para companhias de colonização, entre elas uma de Marcelino Ramos RS, com nome de Mosele, Eberle Ahrons & Cia.

Os irmãos Mosele Leonel e João, contrataram o agrimensor Victor Kurudz para medir os 1.073.582.648 m² que receberam para colonizar, abrangendo toda a região onde se encontra a cidade de Concórdia. Mas havia um problema, esta região já estava ocupada pelos caboclos!

Victor Kurudz então se torna amigo do Cel. Fabrício, frequentava sua casa, onde comia canjica e carne de anta. Antes de sua morte Victor Kurudz foi entrevistado e dizia que compreendia o Coronel a quem atribuía capacidade, conhecimento e psicologia para lidar com os caboclos. Ele era a chave para tirar aquele povo da região e liberar a colonização por imigrantes trazidos pelos Mosele e sua Cia.

O Cel. Fabrício foi convencido por Kurudz a levar os caboclos para uma tal Fazenda das Laranjeiras (hoje Distrito de Planalto), onde receberiam terras com títulos de propriedade, deixariam de ocupar terras ilegalmente, sem documentos, para terem suas posses devidamente legalizadas.Tudo seria assinado em cartório…..foi feita então a CONCÓRDIA…..o Acordo!

Mas então o Cel Fabrício foi emboscado e morto, dele só se tem a fivela do cinto que está exposta no Museu Histórico Hernano Zanoni, bem em frente à Praça onde ficavam os caboclos. E eles? Uma questão que encontra resposta na afirmação do Victor Kurudz: “O terreno foi limpo!”

E assim, mais uma vez se cumpriu a sina triste de gente expulsa de casa, enganada e espoliada por quem teve maior poder e agia apenas em interesse próprio de angariar riqueza e ainda mais poder. Mas, de fato, o lugar até hoje se chama Concórdia.

Embora oficialmente a colonização tenha começado na década de 20, há igrejas na região que datam de 1900 (católica) e 1908 (protestante) o que confirma a existência de povoações antes da vinda das empresas de colonização.

Nota do Autor:

O Museu Histórico Hernani Zanoni está no Centro Cultural Concórdia. É aberto das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30. Além do que expõe de forma permanente, há exposições temporárias como neste mês de setembro de 2018, que artefatos do Museu Angelo Spricigo que possui o maior acervo de máquinas de costura da América do Sul, com mais de 1.500 exemplares, com 160 marcas diferentes de diversos países.

Exposição do Museu Angelo Spricigo

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Sobre o autor:

Edison Porto, administrador pela Eaesp/FGV, MBA em Finanças pelo IBMEC-SP, bacharelando em Direito e Jornalismo. Membro da Associação dos Amigos do Museu do Contestado de Caçador, da Associação Cultural Coração do Contestado de Lebon Régis, da ACIJO  Associação Caçadorense de Imprensa, do Núcleo de Comunicações da ACIC Caçador. Ocupa a cadeira nº10 da Academia Caçadorense de Música. Editor do Jornal Caboclo.

P.S.: Os conceitos emitidos por artigos ou por textos assinados e publicados neste jornal são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

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